Nos meios políticos em João Pessoa avalia-se que uma das causas da derrota da candidata Cida Ramos (PSB) à prefeita da Capital, já no primeiro turno, foi a linha de ataques que ela adotou de forma sistemática contra o prefeito reeleito Luciano Cartaxo (PSD). O comportamento até certo ponto agressivo da postulante, ao se referir a supostas omissões da atual administração municipal e à inércia no projeto de avanços da Capital paraibana, contrastou frontalmente com a linha propositiva essencialmente adotada por Luciano, que deu ênfase a obras realizadas e a investimentos feitos apesar da crise econômica conjuntural que afeta o país e da falta de parcerias mais sólidas com o governo do Estado em aspectos pontuais.
Oriunda dos meios estudantis universitários e de engajamento em alguns movimentos sociais, Cida Ramos teve dificuldades, também, pelo desconhecimento de parcelas expressivas da população quanto à sua trajetória. A rejeição ao seu nome decorreu do efeito colateral do desgaste da administração do governador Ricardo Coutinho, que se aliou ao governo de Dilma Rousseff e purgou as consequências do impeachment enfrentado por ela. A ausência de um outro candidato competitivo que pudesse reforçar as chances de Cida Ramos de ir para o segundo turno também pesou na definição em prol de Luciano Cartaxo no primeiro turno.
O candidato Charliton Machado, do PT, além de desconhecido de parcelas do eleitorado, canalizou os efeitos do desgaste nacional arrasador enfrentado pela agremiação na esteira de escândalos e da prisão de ex-dirigentes nacionais e ex-ministros de governos petistas. O candidato petista não construiu, por outro lado, uma plataforma consistente voltada em soluções viáveis para os problemas e desafios de João Pessoa diante do crescimento populacional experimentado. Enquanto isso, o candidato Victor Hugo, um auditor fiscal, que concorreu pelo PSOL, foi prejudicado pelo tempo restrito na apresentação de propostas, pela exclusão de debates em órgãos de comunicação e pela falta de comunicação melhor das suas intenções quanto a ium modelo de desenvolvimento sustentável em João Pessoa.
Para alguns analistas políticos, a candidata Cida Ramos optou equivocadamente por tentar imitar o governador Ricardo Coutinho, este, por sua vez, criticado em alguns círculos pela insistência em querer assumir o monopólio dos votos na Capital, no dizer de um deputado votado em João Pessoa. Para esse parlamentar, numa conversa “em off”, o governador errou de cálculo, ignorando o fato de que a Capital sempre foi considerada uma cidadela independente, que não é subordinada ao poder de mando de governantes de ocasião. A troca de candidaturas no esquema ricardista (Cida substituiu ao secretário de Infraestrutura, João Azevedo, inicialmente testado pelo laboratório ricardista e logo afastado por não aparentar crescimento rápido) repassou a ideia de insegurança no “staff” do governador, que não teria sido feliz, também, na formatação de alianças com outros partidos e esquemas, ao passo que Luciano Cartaxo logrou atrair o PMDB, tendo o deputado federal Manoel Júnior como candidato a vice, e neutralizar o PSDB, que não lançou candidato próprio à prefeitura e na reta final se fez presente no palanque de Cartaxo, através do senador Cássio Cunha Lima, um dos principais adversários políticos de Ricardo Coutinho.
Esta foi a segunda derrota enfrentada pelo governador Ricardo Coutinho nas eleições para a prefeitura de João Pessoa, considerado o seu principal reduto, por ele governado em duas gestões (a última das quais abreviada para que Ricardo concorresse e vitoriasse ao governo do Estado). Em 2012, à frente do governo, Ricardo renegou a candidatura de Luciano Agra, seu vice, à reeleição, e viabilizou o lançamento de Estelizabel Bezerra, que ainda chegou a ter um desempenho surpreendente, levando-se em conta a falta de militância na política-partidária. Estelizabel ficou na terceira posição, à frente de pesos-pesados como José Maranhão, que governou o Estado por três vezes. Mas o segundo turno em 2012 foi decidido entre Luciano Cartaxo, que concorreu pelo PT, e pelo senador Cícero Lucena, representante do PSDB. Na disputa de agora, não houve nem segundo turno., o que indica, para alguns analistas, que está havendo um esvaziamento de quadros no agrupamento ricardista, podendo comprometer as próprias chances do governador de concorrer a um mandato senatorial em 2018 ou a uma vaga de deputado federal. A maior dificuldade para Ricardo, daqui para a frente, porém, será forjar uma candidatura viável à sua sucessão ao governo do Estado. Este é o maior desafio considerado por analistas políticos de diferentes tendências, quase de forma consensual.
Da parte do prefeito reeleito Luciano Cartaxo, perdura a insinuação de que em 2018 ele disputará o governo do Estado, deixando a prefeitura nas mãos do vice, Manoel Júnior. Isto faria parte de um acordo de bastidores que teria sido celebrado com o aval do senador José Maranhão. As cúpulas partidárias não confirmam o entendimento e,durante a campanha, Luciano Cartaxo assumiu de público o compromisso de concluir integralmente o segundo mandato, afastando os rumores de que pretenda ser candidato ao governo do Estado. Tudo se coloca, na verdade, no plano das hipóteses ou das especulações. O cenário para 2018 começará a ser montado daqui a alguns meses com uma leitura mais fria da conjuntura estadual resultante do pleito municipal de 2016.
Nonato Guedes