O eleitor, verdadeiro dono do voto e do futuro de candidatos e candidatas em eleições de diferentes níveis, cada vez mais põe e depõe gestores no comando de governos em Capitais e cidades distintas do país. O processo eleitoral tornou-se um exercício de aprimoramento político, depois de muito esforço para uma conscientização de parcelas médias do eleitorado brasileiro. O que se deu no balanço das urnas deste ano? Houve uma reposição de peças, ou de siglas. O PT perdeu feio, por razões óbvias, depois que o discurso pela ética e pelo moralismo foi pelos ares. Ascendeu, em alguns centros estratégicos influentes, o PSDB, que nas últimas décadas tem enfeixado a polarização com petistas. Mas no quadro balanceado abre-se espaço para o PMDB velho de guerra, a despeito do desgaste do governo de Michel Temer, que não disse ainda a que veio.
Razões que determinam intenções de voto podem ser subjetivas, o que dificulta uma leitura mais aproximada por parte dos analistas e experts, ou podem ser objetivas, de uma clareza ímpar. A reeleição de Luciano Cartaxo (PSD) em João Pessoa, por exemplo, era fato esperado e já no primeiro turno. Ele fez a melhor costura possível do ponto de vista das composições partidárias, adotou o discurso do avanço e apresentou resultados do primeiro mandato, ainda que não tão expressivos, mas, de qualquer forma, atraentes para cacifá-lo a um novo mandato. Sua adversária, a professora Cida Ramos, lastreou-se basicamente no apoio do governador Ricardo Coutinho, em torno do qual se desfez o mito de que era imbatível na Capital, seu grande reduto. Pelo menos do ponto de vista de transferir votos para candidatos a cargos executivos no município, Coutinho não correspondeu. Perdeu em 2012 com Estelizabel Bezerra, perdeu agora com Cida Ramos. Em ambas as oportunidades, as candidatas do PSB ricardista não passaram do primeiro turno.
Louve-se em Ricardo a iniciativa de testar quadros que ainda estão sendo lapidados no cenário político pessoense ou paraibano. Ele procura contribuir, a seu modo, ainda que no estilo personalista, para a oxigenação das estruturas políticas e partidárias. A questão é que não acerta nos nomes submetidos ao eleitorado para o confronto imediato. Ricardo dá a entender que age impulsivamente, o que em política nem sempre surte efeito ou exibe o resultado esperado. Não custa lembrar que na disputa de 2016, ele experimentou, dentro do seu laboratório, inicialmente, o nome do técnico João Azevedo, secretário de Infraestrutura do seu governo e conhecedor profundo dos desafios urbanísticos de João Pessoa. Deixou-se levar pelo açodamento que não permitiu uma maturação em tempo rápido da virtual candidatura de Azevedo e substituiu-o pela professora Cida Ramos, numa estratégia para pegar carona em movimentos docentes-estudantis e de classe média e também na suposta vitimologia intentada pela ex-presidente Dilma Rousseff, que, convenhamos, não comoveu eleitores de outros centros influentes no Sul do país, quiçá em João Pessoa.
Lula assiste, insatisfeito, ao desmoronamento do fenômeno PT, o Partido dos Trabalhadores, golpeado brutalmente nas urnas no cinturão do ABC paulista onde ficam as entranhas da legenda e subsidiariamente no Nordeste, de onde Luiz Inácio migrou para São Paulo em busca de sobrevivência e uma região na qual os seus governos investiram maciçamente com os programas tipo Bolsa Família e outros a que se negava feição assistencialista, mas que claramente ostentavam essa perspectiva. A verdade é que o PT foi adiando demasiado o processo de autocrítica ou de reflexão sobre os rumos políticos-eleitorais que deveria tomar depois das prisões de líderes nacionais e da repercussão negativa de escândalos como mensalão e petrolão. Os frutos da inércia foram colhidos ontem, a partir de São Paulo, onde o PSDB, antípoda do PT, retoma o controle da prefeitura, acumula-o com o governo do Estado e volta a sonhar com a presidência da República.
Sim, é cedo para avançar prognósticos futuristas, para investir no achismo em relação a 2018. O tempo ainda é de comemoração para os vitoriosos na primeira fornada e de batalhas para os que ficaram no meio do caminho, rumo ao segundo turno. Isto não impede que ilações sejam feitas em cima da emoção. A grande lição grande e fundamental é que o eleitor está cada vez mais vivamente interessado em exercitar seu direito de escolha, levando em conta critérios eminentemente personalistas de juízo ou avaliação. Parece finalmente chegada a hora de as cúpulas partidárias renderem-se à manifestação das bases. Não dá mais para impor chapas ou soluções de gabinete enquanto a voz rouca das ruas é olímpicamente ignorada. Isto é o que deveria balizar posicionamentos de agora em diante na conjuntura política-eleitoral brasileira.
Nonato Guedes