Pesquisas que estão vindo a lume atestam que candidatos a prefeito ou gestores que deixaram o Partido dos Trabalhadores quando estouraram escândalos tiveram mais chances de vitoriar nas últimas eleições do que políticos filiados ao PT ou identificados de algum modo com a ex-presidente Dilma Rousseff. Temos, na Paraíba, um caso bastante ilustrativo desse cenário: a reeleição do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo. Ele migrou do PT e cerrou fileiras dentro do PSD, que é presidido por Rômulo Gouveia, ligado a Cássio Cunha Lima. Abstraindo as forças que somaram para a recondução de Cartaxo e fatores externos que pesaram para que ele liquidasse a fatura no primeiro turno, sobrepunha-se a imagem do postulante em si.
Cartaxo não se contaminou com deslumbramento e viveu cada dia da campanha como se fosse um desafio. Suportou provocações em debates nas emissoras de rádio e televisão, deu resposta a algumas delas quando poderiam comprometê-lo e ao mesmo tempo flechar a credilidade que buscava transmitir. A estratégia foi acertada, sob todos os pontos de vista. Se tivesse sido arquitetada mais a vagar, para acolher doses de profissionalismo, talvez não surtisse o efeito esperado. Houve espaço, então, para uma certa flexibilização – não digo improvisação porque um gestor em busca de um segundo mandato não trabalha em cima de balões de ensaio, mas opera, sim, em torno de números de obras e investimentos.
Tenho ouvido depoimentos interessantes a respeito da conjuntura eleitoral travada em João Pessoa. Todos convergem, entre outros aspectos, para uma certa aura de arrogância que a candidata Cida Ramos, “in pectoris” do governador Ricardo Coutinho, transmitiu para telespectadores e para eleitores. “Com todo o respeito à professora, ela parecia uma sósia, uma ventríloqua do governador, com delírios de grandeza, com triunfalismo exacerbado que não fazia jus à evidência solar das ruas”, opinou um dos interlocutores. No contraponto, Cartaxo não fez o papel de “coitadinho” nem procurou enveredar por apelos de vitimologia. Ele agiu profissionalmente, apresentando dados e subsídios sobre o que foi encontrado, sobre o que foi feito e sobretudo acerca do que pretende fazer daqui para a frente.
Aprendi, desde que cheguei a João Pessoa em 1978, que a Capital tem um acentuado sentimento de classe média, por mais que a densidade populacional incorporasse franjas do que antigamente se chamava lúmpen-proletariado. Em essência, Luciano é originário das classes sociais médias e se apresentou em sua inteireza sem truques de marketing ou outros recursos midiáticos. Em 85, na restauração das diretas na Capital, o médico Carneiro Arnaud derrotou Marcus Odilon Ribeiro Coutinho graças à coligação de forças, mas, principalmente, pela sua postura, não agressiva. Marcus Odilon assustou segmentos da população ameaçando reproduzir na Capital o estilo populista que deu certo em Santa Rita. Era o que o próprio Marcus, numa das suas tiradas irônicas, denominou de “governo Povo da Silva’. Populismo puro, o que causou constrangimentos ao ex-governador Tarcísio Burity, que o apoiou por falta de opções. Na abertura das urnas, Carneiro despontou com vantagem de cerca de dez mil votos. “Vitória de Pirro”, proclamou-se, numa alusão ao envolvimento de donos de máquina como o governador Wilson Braga na sua campanha. O general Pirro não compareceu no final da refrega de 85. Carneiro, por sua vez, não era um desconhecido que fosse capaz de pôr em risco um projeto de crescimento da Capital paraibana.
Os líderes socialistas teimam em promover uma autocrítica sobre os erros que foram cometidos na condução da campanha de Cida Ramos. Um desses erros foi a projeção espetacular que o governador teve na mídia, no Guia Eleitoral. Mas Ricardo não era o candidato. O gestor estadual, que não transferiu votos para Estelizabel em 2012 foi o mesmo que não transferiu votos para Cida Ramos. Uma análise sobre o espírito personalista de Ricardo Coutinho talvez seja urgente para que o seu agrupamento não se disperse em meio a desilusões recônditas e, mais recentemente, de denúncias pesadas formuladas por Renato Martins, vereador não reeleito. O coroamento da vitória de Cartaxo não foi simbolizado apenas pela ausência de segundo turno na disputa. Há um episódio a que poucos dão atenção, mas que demonstra bem o estilo de Luciano Cartaxo: já reeleito, ele voltou às ruas. Para agradecer. Quantos se dispõem a esse corpo a corpo, depois que os resultados são conhecidos?
Josival na Comunicação
Aproveito o ensejo para reiterar ponto de vista que expressei no meu Facebook, destacando a importância de Josival Pereira na Comunicação do prefeito Luciano Cartaxo. Foi a pasta que enfrentou mais substituições ao cabo de um mandato, até que se chegou ao nome de Josival, egresso de militância jornalística-cultural na cidade de Cajazeiras e acolhido em João Pessoa, pelos seus méritos, no Sistema Correio e na TV Tambaú. Conheço Josival de perto porque laboramos juntos em atividades múltiplas na década de 70 em Cajazeiras, numa época em que apesar da ditadura ainda era possível resistir, que era o que fazia o grupo de que participamos. Josival está de parabéns pelo trabalho desempenhado numa área habitualmente crítica para governantes. Ele foi a aposta certa de Cartaxo para realizar a comunicação entre o gestor e os habitantes da bela João Pessoa.