O vice-prefeito eleito de João Pessoa, deputado federal Manoel Júnior (PMDB), ganhará posição de destaque a partir de janeiro, ao invés de exercer papel meramente decorativo, como se especula. Preparando-se para a eventualidade de ter que completar o mandato do prefeito reeleito Luciano Cartaxo (PSD), facilitando os passos deste para uma candidatura ao governo do Estado em 2018, Júnior já foi avisado de que terá que formalizar a renúncia ao mandato em Brasília a partir de janeiro. Com isto, perderá vantagens que o mandato parlamentar confere – além do salário de R$ 33,7 mil, auxílio-moradia, verba de custeio de funcionários, mais R$ 41,6 mil do chamado cotão e cobertura de despesas com saúde. Como vice-prefeito, ganhará R$ 15 mil, mas será compensado com a pasta da Saúde e disporá de tratamento diferenciado, com gabinete no Centro Administrativo, onde Cartaxo despacha.
A acumulação da vice-prefeitura com a secretaria de Saúde da Capital não é uma inovação na gestão pública. Além de ser médico e ter presidido comissões legislativas focadas na problemática da Saúde, o vice-prefeito eleito já manteve nas últimas horas em Brasília reunião com o ministro Ricardo Barros, tentando adiantar o encaminhamento de soluções para demandas na área, tais como habilitação do hospital do Valentina Figueiredo e da UPA de Cruz das Armas. Em 2004, quando foi vice-prefeito de Ricardo Coutinho em João Pessoa, Júnior era praticamente ignorado na tomada de decisões referentes ao interesse público. Na atual gestão de Cartaxo, quem padece desse problema é o jornalista Nonato Bandeira, vice-prefeito, presidente estadual do PPS, que se distanciou de Luciano enquanto se reaproximava do governador Ricardo Coutinho (PSB). Hoje, Bandeira é cotado para assumir uma secretaria na administração estadual a partir de janeiro quando não será mais o vice-prefeito.
Um sintoma do desprestígio de Nonato Bandeira na gestão de Luciano Cartaxo pode ser aferido pela localização do gabinete do vice-prefeito. Ao invés de ocupar sala no Centro Administrativo, Nonato atua bem longe, na Estação das Artes, no Altiplano Cabo Branco. Os dois formaram uma dobradinha produtiva na campanha de 2012, reforçada com a participação do falecido ex-prefeito Luciano Agra, que havia sido “rifado” pelo governador Ricardo Coutinho como candidato à reeleição. Agra foi derrotado em convenção por Estelizabel Bezerra, candidata “in pectoris” de Ricardo Coutinho, que, entretanto, não logrou empurrá-la para o segundo turno nas eleições de quatro anos atrás. Estelizabel ficou em terceiro lugar, suplantando o hoje senador José Maranhão e em 2014, com o apoio logístico de Ricardo, se elegeu deputada estadual. Já circula a versão de que em 2018 Estelizabel deverá partir para o mandato de deputada federal, enquanto Cida Ramos, que foi candidata do PSB nas eleições deste ano e perdeu em primeiro turno, seria candidata a uma vaga na Assembleia Legislativa. O governador, de sua parte, é lembrado como alternativa para o Senado Federal.
Nas últimas horas, surgiram rumores de uma articulação que estaria sendo feita nos bastidores com vistas à apresentação de uma resolução na Câmara Municipal de João Pessoa, garantindo a Manoel Júnior tomar posse como vice-prefeito, sem prejuízo de sua permanência no mandato de deputado federal até fevereiro de 2009. A fórmula engenhosa seria inspirada em procedimento adotado pelo legislativo municipal de Cabedelo, que aprovou resolução permitindo que vereadores-suplentes de deputados assumissem mandato titular interino na Assembleia Legislativa, sem perder o direito de continuar sendo vereador na jurisdição de origem. A manobra favoreceu o vereador Artur Cunha Lima Filho, que ascendeu aos quadros da AL sem perda do vínculo com a Câmara da cidade. Fontes ligadas a Manoel Júnior e a Luciano Cartaxo disseram desconhecer a ideia de apresentação da proposta para acumulação de mandatos parlamentares. O prefeito reeleito, indiferente aos rumores de toda ordem que são espalhados após o resultado da eleição do último dia dois, tenta conciliar oportunidades de descanso com atividade de articulação visando a formatação da nova equipe e definição de prioridades imediatas que serão atacadas no novo mandato.
Nonato Guedes