Acompanhem esse enredo: Luciano Cartaxo foi vice de José Maranhão na campanha ao governo da Paraíba em 2006. A chapa foi derrotada nas urnas por Cássio Cunha Lima, afastado do mandato em 2009 junto com o vice José Lacerda Neto. Maranhão e Cartaxo ascenderam, então, à titularidade, mas um pouco mais adiante começaram a se distanciar. Em 2012, Maranhão disputou a prefeitura da Capital e foi barrado já no primeiro turno, enquanto Luciano ficou para a finalíssima, ganhando contra Cícero Lucena. Em 2014, já prefeito da Capital, Luciano firmou aliança em torno da reeleição de Ricardo Coutinho ao governo, com o compromisso deste em abrir espaço para o irmão gêmeo do prefeito, Lucélio, como candidato ao Senado. Ricardo foi reeleito, Lucélio derrotado. Na verdade, Coutinho dividiu-se entre Lucélio e José Maranhão – este, o eleito ao Senado naquele ano.
Neste ano de 2016, Luciano Cartaxo concorreu à reeleição como prefeito de João Pessoa, tendo como vice o deputado federal Manoel Júnior, do PMDB. A chapa foi endossada por Maranhão e contou, ainda, com o apoio do senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, que não lançou candidatura própria nem reivindicou vaga no páreo majoritário. Cartaxo e Júnior foram eleitos em primeiro turno, tendo como adversária principal a candidata Cida Ramos, apoiada pelo governador Ricardo Coutinho. Ontem, Maranhão fez visita de cortesia ao prefeito reeleito e assegurou-lhe que vai se empenhar para viabilizar liberação de recursos e aprovação de projetos encaminhados em órgãos federais em Brasília. Um ponto importante que ficou evidenciado foi a afirmação de Maranhão de que, como aliado, é do seu dever contribuir para o êxito da gestão de Cartaxo.
À primeira vista, a relação entre Cartaxo e Maranhão se parece com um iô-iô político, diante das idas e vindas, dos encontros e desencontros que têm pontuado o relacionamento entre os dois homens públicos. Está na hora de serem colocados os pontos nos is, até para que o eleitorado não seja, a cada pleito, surpreendido com o vai e vem de posições dos protagonistas da cena política local. Por exemplo: sabe-se que Luciano Cartaxo deverá ser candidato a governador em 2018, renunciando à prefeitura e entregando-o nas mãos do vice Manoel Júnior, que lá na frente pode até ser o candidato natural à reeleição. Luciano não confirma a postulação ao governo, e é certo que num dos momentos da campanha deste ano, no Guia Eleitoral, deixou claro que pretende concluir integralmente o segundo mandato na prefeitura, o que o retiraria da pauta de candidatáveis ao governo em 2018. A dúvida é saber se as coisas vão acontecer dentro do figurino que foi antecipadamente alardeado.
O dinamismo da política e, mais do que isso, as ambições dos políticos, conspiram contra juras de compromissos por parte de quem quer que seja quanto a atitudes ou estratégias no curto prazo. O único ponto que parece definido é que não há mais espaço para reatamento de aliança entre o clã Cartaxo e o governador Ricardo Coutinho. Em conversa informal esta semana, o ex-candidato a senador Lucélio Cartaxo deu a entender que tal hipótese está inteiramente desconfigurada. Isto remete a uma outra questão: o senador José Maranhão toparia assumir compromisso com uma candidatura de Luciano ao governo ou ele mesmo, Maranhão, vai novamente postular o Palácio da Redenção em 2018? A questão, por óbvio, não constou da pauta da visita de cortesia de ontem no Cento Admnistrativo Municipal. Mexer nela significa mexer num vespeiro e Maranhão não tem vocação nem paciência para acumular problemas em série. Está mais para deixar que cada problema seja resolvido ou discutido a seu tempo.
Caberia indagar, ainda, como fica o senador Cássio Cunha Lima diante do projeto de candidatura de Luciano Cartaxo ao governo do Estado em 2018. Em 2014, Cássio foi derrotado por Ricardo Coutinho na tentativa de chegar ao Palácio da Redenção outra vez. Maranhão apoiou Vital do Rêgo no primeiro turno preparando-se para apoiar Ricardo no segundo, que foi o que aconteceu. É natural que Cássio deseje uma oportunidade de revanche, não propriamente contra Ricardo, que deverá indicar outro nome para disputar o governo. Seria mais uma revanche pessoal, um tira-teima dele na obsessão de se testar na volta a um governo que exerceu e que seu pai, o poeta Ronaldo Cunha Lima, também exerceu. Com tantas pendências em aberto, o eleitor se encaminha para vivenciar um novo cenário confuso, até que os expoentes da cena se entendam e formulem propostas coerentes. Até lá, tudo será uma incógnita. Que abre a possibilidade de acontecer tudo, inclusive, nada.
Por Nonato Guedes