A palavra de ordem já foi dada pelo Carlos Luppi, presidente nacional do PDT: o PT deve “cair na real”, desistir de apostar em Lula como alternativa para 2018 e começar a admitir outras alternativas no cenário político, a exemplo do ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, que vem disposto a “tratorar” quem quer que seja, inclusive, Lula e o PT. Ciro é conhecido pelo pavio curto e pelo linguajar pouco equilibrado que adota. Seu alvo principal, naturalmente, é o governo de Michel Temer, que comanda os destinos do país mas que ainda não encontrou uma bússola capaz de dar tranquilidade ao presidente para que ele possa sorver um delicioso vinho tinto com a primeira-dama Marcela em momentos de relax nos palácios do poder em Brasília.
De há muito, diga-se de passagem, o PT deveria “ter caído na real”, equivale dizer, deixar de brigar com os fatos, encará-los como eles são e oferecer respostas, se tiver, ou não oferecer. Desde a eclosão do mensalão, ainda no governo Lula, a cláusula pétrea no PT e junto a Lula tem sido a de escamotear, a pretexto de que não sabia de nada, que desconhece, que não acredita ainda no que veio à tona de forma cruel, avassaladora. Essa estratégia cansou os ouvidos dos eleitores e dos interlocutores e isolou líderes como Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff em mesas de conversações sobre alternativas ao que está aí.
Tem razão o jornalista Carlos José Marques, editor da revista ISTOÉ, quando afirma que o povo gritou em alto e bom som: Fora PT! Isto foi nas urnas, nas eleições municipais deste ano, em que o partido fundado no ABC paulista e que chegou a ser vendido lá fora como um experimento revolucionário foi varrido de Capitais importantes com,o São Paulo. Lula esteve a pique de mandar tocar a caravana petista para Garanhuns (POE), sua terra natal, em busca de exílio e amparo, mas mesmo lá a legenda foi escorraçada. Dilma, ainda anestesiada pela perda dos poderes palacianos em Brasília, parece viver no mundo da Lua. Quando fala, experime declarações sem sentido e sem linearidade, num caleidoscópio que dá bem uma ideia do catatonismo a que chegou o Partido dos Trabalhadores depois de tantos escândalos, de tanta roubalheira.
Diz Carlos José Marques: “O PT foi humilhado nas urnas, dizimado politicamente, transformado em pó pelas mãos de quem deve ter sempre a última palavra sobre os desígnios da Nação: o povo. O discurso loroteiro de golpe com o qual tentava iludir os incautos sucumbiu, enterrado por generosas doses de votos na expressão máxima da democracia. Aonde o voto impera não há espaço para alegações de golpe, de conluio das elites ou o que valha. Pura bobagem que a vontade do eleitor, patrão dos políticos, tratou de demolir conscientemente. O PT ouviu um sonoro não de cidadãos dos mais variados matizes sociais e regiões do país. Uma derrota fragorosa, eloquente e sem precedentes. O cidadão honesto repudia suas práticas corruptas e criminosas. Não aceita mais o palavreado fácil, sem compromisso com a ética, que busca o poder a qualquer preço. O PT migrou da esfera política à policial, leevando junto dirigentes que acabaram por virar réus, presos e condenados, inclusive seu líder máximo, Lula’.
Para além desses fatos elencados, há um contencioso nada desprezível, embora pouco salutar para o país: 12 milhões de desempregados e seus familiares, num contingente que se estima chegar a inacreditáveis 50 milhões de pessoas sem renda, transformadas nas maiores vítimas desse descalabro. O PT legou um déficit de R$ 170 milhões nas conts públicas, uma dívida interna de quase R$ 4 trilhões, companhias quebradas, recessão e desordem administrativa generalizada. Lula jactava-se de comandar o partido mais popular do Brasil. Os números desmentem a bravata e são devastadores: o PT desabou no ranking, de terceira maior legenda, para uma desconcertante décima colocação. Está menor que o DEM, antes apontado com em decadência e conta com menos da metade das prefeituras do recém-criado PSD de Rômulo Gouveia e Luciano Cartaxo na Paraíba. No rastro da derrocada, o PT perdeu mais de 23 milhões de votos em nível municipal, quase 400 prefeituras de 2012 para cá e foi pratiamente varrido das capitais brasileiras, restando apenas uma: o Rio Branco, no Acre.
Antes que Carlos Luppi sugerisse que o PT “caia na real”, um petista histórico, Olívio Dutra, falou com autoridade: “O PT tem de levar lambada forte mesmo” depois de tudo que fez. Não dá para imaginar Lula contradizendo Olívio Dutra. A ruína do PT foi consagrada – lavada e enxaguada nas urnas e, como diz Carlos José Marques, a melhor saída seria começar por um pedido de desculpas por todos os erros e falcatruas. Mas o PT terá essa humildade? A conferir!
Nonato Guedes