Uma turba ululante saiu às ruas, esta semana, protestando pelo fim da vaquejada decretada pelo STF. Não aceita que o Supremo, na esteira da sociedade, avance em sua consciência crítica e ponha fim nessa vergonha.
Os defensores dessa prática sádica travestida de esporte a um ser vivo não resistem à imperiosa revisão crítica de costumes e tradição que os novos tempos exigem. Aliás, nesse esporte, a única dúvida ou nenhuma delas é quem é o irracional: caça ou caçador.
Nenhum raciocínio lógico me socorre para aceitar o argumento de que o fim da vaquejada vai extinguir empregos e acabar uma tradição. O fim da prática criminosa da escravidão acabou empregos e diminuiu o comércio ultramarino de infelizes que proporcionam boas rendas aos abutres da consciência humana! E o mundo não parou na idade na Idade Média.
Invocam muito o nome de tradição em vão, para justificar o injustificável. Já houve quem tentasse se defender de acusação de violência à mulher, sob ao argumento que a prática vinha dos avos e pais. Cinismo despudorado dos que mantêm relações assimétricas entre homens e mulheres, envolvendo sempre discriminação e preconceito.
São em nomes dessas falácias que querem continuar derrubando boi, agredindo a natureza e o bom senso tradição!
Ninguém pode questionar a sociedade inglesa, quando se trata de tradição. E a Caça à Raposa era emblemática como tradição, com todos aplaudindo a corrida de cavalos e cães às raposas. Tal prática acabou proibida pelo Parlamento Britânico por ferir direitos animais proposto pela Unesco.
Por aqui mesmo, a rinha de galo ficou no passado e também deve ter desmantelado um bom comércio e desempregado treinadores. Mas há um ganho intangível e imensurável em tudo isso.
Nesse contexto, hão de dizer que na Espanha, a tourada, uma das tradições mais conhecidas mundialmente daquele País, continua firme. Nem tanto. Perde fôlego e na região da Catalunha já está proibida. Em Barcelona, um abaixo assinado com 180 mil signatários pediu o fim do massacre.
Aqui mesmo no Brasil, o que muitos não sabem, a tourada teve espaço até a década de 30, quando foi abolida de vez. Cronologicamente, Deus poupe-me do desgosto ver essa barbárie.
É preciso entender, sem usar o cinismo do politicamente correto, que a consciência critica avançou para entender o ciclo evolutivo da moral e dos costumes.
Por exemplo, você botaria hoje seu filho para dormir, ninando-o com atirei o pau no gato/mas o gato/ não morreu…?
É justo dizer hoje, ao se referir a uma agressão física ou ofensa a alguém, que isso não se faz nem com um cachorro? O que o canino nos fez para ser merecedor dessa fúria humana, em forma de dito popular?
Pois bem, a vaquejada, que continua maltratando o animal e não adianta escamotear a verdade, está no atraso deste entendimento, e em nome do boi, eu grito em protesto: valeu o STF!
Por Geovaldo Carvalho