Pode ser que dê certo, na eleição presidencial de 2018, uma aliança entre o PMDB e PSDB, que são os maiores pilares da governabilidade de Michel Temer, investido em meio ao impeachment de Dilma Rousseff. Mas não há garantia de que em alguns Estados haja desdobramento da tal aliança na formação de chapas para disputas regionais. Na Paraíba, por exemplo, é pouco provável que o senador José Maranhão, cacique maior do PMDB, concorde em ceder a cabeça de chapa para um tucano, que, teoricamente, seria o senador Cássio Cunha Lima, até por necessidade estratégica de revanche, tendo em vista que em 2014 perdeu a eleição ao Palácio da Redenção para Ricardo Coutinho.
Aliás, Ricardo pode se jactar de um feito: derrotar pelo voto tanto Cássio Cunha Lima quanto José Maranhão (este em 2010). O senador Maranhão, por mais que ainda tenha mandato a cumprir no âmbito do Congresso Nacional, dificilmente desistirá de uma nova candidatura em 2018 (se não houver prorrogação de mandatos a propósito de fazer eleições coincidirem). JM é um homem público essencialmente talhado para o Executivo. Ele não tem apetência pela atividade parlamentar, tanto assim que atualmente não tem uma projeção maior em meio a tantos fatos relevantes dominando o cenário nacional.
Tudo bem, Maranhão já foi presidente da CMO, a poderosa Comissão Mista de Orçamento, que tem o condão de dar a palavra final sobre autorizações para que governos estaduais possam contrair empréstimos externos. Tendo começado sua carreira política pela via parlamentar, Maranhão tomou gosto pelo Executivo ao assumir o governo com a morte de Antônio Mariz, de quem foi vice, já em 1994. Em 98, invocando o direito à “candidatura natural”, Maranhão praticamente impôs seu nome ao partido. Foi essa atitude que levou a um rompimento entre os Cunha Lima e o esquema maranhista. Em função de tal comportamento foi que se verificou o incidente no Campestre Clube e, na sequência, os Cunha Lima, forçados por lei a permanecer no PMDB, “cristianizaram” a postulação de Maranhão, torcendo pela candidatura de Gilvan Freire, que surgia quase que como símbolo de protesto dentro do PSB e que acabou enfrentando uma derrota acachapante, embalada pela falta de recursos para se contrapor ao rolo compressor que JM enfeixava.
Em 2014, Maranhão deu uma volta olímpica para não se ver na contingência de estar no palanque de Cássio. No primeiro turno, com a desistência de Veneziano Vital do Rêgo em concorrer, o cacique peemedebista lançou como alternativa o então senador Vital do Rêgo, que não logrou ir para o segundo turno (Vital é hoje ministro do Tribunal de Contas da União, designado ainda por Dilma Rousseff). Pessoalmente Maranhão externou interesse na reeleição de Ricardo Coutinho, que foi alcançada em segundo turno. Cássio fechou as portas, segundo se disse na época, quando formou chapa puro-sangue, tendo como seu vice o então deputado federal Ruy Carneiro, hoje sem mandato e ocupando apenas a presidência estadual do PSDB.
Nas eleições municipais deste ano, o apoio simultâneo de Cássio e de Maranhão à candidatura do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, à reeleição, foi de certo modo uma coincidência. A cúpula peemedebista não se empenhou para forjar candidatura própria e acabou indicando o nome do deputado federal Manoel Júnior para ser o companheiro de chapa de Cartaxo na disputa. O PSDB do senador Cássio sequer lançou candidato próprio a prefeito e veio a reboque da coalizão PSD-PMDB. Cunha Lima compareceu a eventos na reta final da campanha de Luciano, numa estratégia visando a se credenciar, também, no palanque da vitória, como apontavam todas as projeções. Havia um outro interesse de Cunha Lima, que era o de dar uma resposta ao esquema do governador Ricardo Coutinho, que empacou no primeiro turno com a candidatura da professora Cida Ramos.
O que juntou PSDB e PMDB no plano nacional foi o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Com bancadas expressivas na Câmara e no Senado, os dois partidos capitanearam a orquestração que resultou na queda de Dilma, com a consequente ascensão do vice Michel Temer. Reagruparam-se na investidura de Michel Temer dentro da filosofia da governabilidade, pondo-se à disposição no Congresso para serem flexíveis e tocarem de ouvido na apreciação de matérias encaminhadas pelo Palácio do Planalto, como está ocorrendo agora na discussão de uma matéria polêmica, a PEC que limita gastos dos poderes. O PSDB também indicou nomes de ministros para a gestão Temer, a exemplo de José Serra, que ficou no ministério das Relações Exteriores. Fora daí, não há sinalização de que a aliança entre as duas agremiações seja ampla, geral e irrestrita. Há divergências doutrinárias no caminho das duas legendas e, por outro lado, a questão regional tem muita força, podendo determinar caminhos distintos no desafio da conquista de governos estaduais.
O que salta nítido, para os analistas e “experts” em política, é que o arranjo nos Estados entre PSDB e PMDB será uma operação complicada, diante da necessidade de sobrevivência das duas agremiações, o que enseja candidaturas próprias e a busca de outros parceiros para formalização de coligações. Não será surpresa, mesmo, se o senador José Maranhão urdir uma estratégia para sair candidato a um outro mandato no Palácio da Redenção. O cenário da força das disputas locais é reconhecido pelos dirigentes expressivos de legendas como determinante nas decisões que são tomadas em termos de costura de chapas e de efetivação de alianças ou composições de caráter político-eleitoral. Não custa aguardar os acontecimentos, claro, mas há variantes que precisam ser levadas em conta nas projeções pela simples razão de que não devem ser descartadas, diante de fatores ligados à fisiologia dos partidos políticos no histórico das suas trajetórias.
Por Nonato Guedes