Nas eleições municipais deste ano, a conta do desgaste do PT, por causa dos escândalos em que o partido se envolveu, já chegou, na forma de derrotas acachapantes, sobretudo em Capitais infuentes como São Paulo, onde Fernando Haddad, que em 2012 foi a revelação, acabou suplantado pelo liberal João Doria, uma espécie de azarão no cenário político. O partido já havia perdido o cargo mais ambicionado, a presidência da República, com o impeachment de Dilma Rousseff, produzindo-se a investidura automática do vice Michel Temer, nos termos da Constituição.
Calcula-se, agora, que a próxima investida contra as hostes petistas, na forma de manifestação de repúdio do eleitorado, será nas eleições parlamentares previstas para 2018, com renovação da Câmara dos Deputados e de um terço do Senado (neste último foi consolidado o impeachment de Dlma, sob a supervisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, o que exorcizou a teoria do golpismo que os petistas tentavam sustentar). Pois bem: as projeções a partir de Brasília já sinalizam a perspectiva de que oito senadores petistas cujos mandatos se encerram em 2018 dificilmente terão votos para renovar os postos que exercem. A perspectiva é de derrota acachapante. E entre eles figura o paraibano Lindbergh Farias, que representa o Estado do Rio no Congresso. Ele é natural de João Pessoa mas fixou militância política no Rio, primeiro projetando-se como líder estudantil à frente da UNE no episódio do impeachment de Fernando Collor em 92. Foi, ainda, prefeito de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, realizando gestão controvertida e criticada.
Amigo pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Lindbergh Farias teve que vestir a camisa petista, expondo-se, inclusive, no caso do impeachment de Dilma Rousseff. Para ele, que mobilizou os cara-pintadas contra Fernando Collor, pregando o impeachment imediato, no caso de Dilma a proposta tinha um viés golpista, alguma coisa de quartelada parlamentar, de manipulação de bastidores políticos, com isto tentando desmoronar todo o castelo de provas pacientemente colecionadas em torno de denúncias que incriminam o partido e a ex-mandatária. Por coincidência ou não, Farias não logrou se eleger candidato a governador do Estado do Rio – e não precisava recorrer ao desgaste da legenda, pois ele tinha sua própria quota de desgaste no palanque.
Em 2010, os parlamentares e governantes eleitos pelo Partido dos Trabalhadores praticamente surfaram, como se diz, na onda da popularidade do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se jactava de ser “o cara” porque detinha em torno de 83% de índices de aprovação popular. O governo estava em lua de mel com a opnião pública e vice-versa. Os escândalos do tipo mensalão e petrolão não haviam aflorado ainda com toda nitidez, culminando cm o tríplex do Guarujá e o sítio de Lula em Atibaia no interior de São Paulo. Essa fase de deslumbramento com o PT e com o próprio Lula, que nunca soube de nada, segundo ele, cessou. Hoje, o PT não disporia nem de 12% das preferências do eleitorado.
O partido foi varrido de prefeituras de cidades importantes. Em João Pessoa, perdeu o prefeito que havia sido eleito pela legenda em 2012, Luciano Cartaxo, que se reelegeu filiado ao PSD. João Pessoa era a única Capital nordestina onde o Partido dos Trabalhadores controlava uma prefeitura. Nas últimas eleições, o candidato lançado pela agremiação, Charliton Machado, teve um desempenho pífio, o PT elegeu apenas um vereador, Marcus Henriques, do sindicalismo bancário, e o prefeito Luciano Cartaxo foi reeleito em primeiro turno, derrotando o esquema do governador Ricardo Coutinho (PSB), que havia se exposto na defesa dos malfeitos de Dilma que provocaram a decretação do seu impeachment.
Líderes políticos ainda remanescentes no PT quebram a cabeça para aferir como devem se comportar diante da conjuntura nacional francamente desfavorável a eles e à agremiação. Fala-se muito na necessidade de reinvenção do partido, sem que se tenha visível a fórmula mágica capaz de operar essa tal reinvenção, muito menos a garantia de que isto altere fundamentalmente a essência de um partido que perdeu suas bandeiras éticas e os compromissos morais, atolando-se nos piores escândalos de que se tem notícia na história do país. Por mais redundante seja, ainda é o caso de se repetir “PT Saudações”. Esta parece ter sido a grande mensagem transmitida pela maioria do eleitorado desiludida com as práticas de um partido que se dizia diferente. E que conseguiu ser pior do que tantos outros partidos que já passaram pelo poder. O PT purga o justo inferno astral que cavou na sua trajetória.
Por Nonato Guedes