A Paraíba estava carente de um gesto aparentemente simples mas que, por diversas vezes, nos custou caro – a falta de união dos seus representantes no Congresso Nacional em torno do Estado. Em governos como os de Tarcísio Burity, Ronaldo Cunha Lima, José Maranhão, Cássio Cunha Lima e Ricardo Coutinho a falta de coesão, originada por picuinhas locais, por brigas de campanário, infligiu perdas consecutivas à Paraíba em matéria de obras, recursos e investimentos. Deve ser objeto de comemoração, portanto, o esforço concentrado que tem se desenvolvido em Brasília para, pelo menos, atender a reivindicações das prefeituras de João Pessoa e Campina Grande, junto a órgãos do governo federal.
Estão em jogo a um só tempo as emendas parlamentares ao Orçamento Geral da União de 2017 e inúmeras outras pendências que têm se acumulado ao longo dos anos, envolvendo, também, o governo do Estado. Senadores e deputados federais de diferentes partidos, salvo uma ou outra exceção, aderiram a esse esforço comum. Mais do que isso: empenharam-se atvamente para socorrer as principais cidades da Paraíba, diante das limitações orçamentárias que vão se acentuando em virtude da grave conjuntura econômica que ainda vai levar um tempo até se recuperar gradativamente dos erros oriundos de gestões petistas. Senadores como Raimundo Lira e deputados como Rômulo Gouveia são emblemáticos da luta itânica que se trava nos corredores ministeriais e em gabinetes do poder na Capital federal. Busca-se, ao mesmio tempo, um consenso ‘interna corporis’, ou seja, entre os próprios paraibanos, para que nenhum sinal de discrepância venha pôr alguma coisa a perder – ou até mesmo tudo.
Houve períodos na história recente da Paraíba em que a radicalização das divergências políticas entre parlamentares com a missão de representar o Estado acarretou perdas de recursos e, em outra frente, o que é mais criminoso ainda, a devolução de recursos que estavam sacramentados, praticamente liberados. Em Brasília, quem conhece os bastidores sabe que a parte mais difícil é vencer a burocracia, uma espécie de mastodonte alimentado por técnicos ferozes nos cálculos e insensíveis às carências humanas, como se o povo fosse apenas um número de uma estatística qualquer. Em favor da verdade, diga-se que não é “apanágio’, se é que isto é apanágio, dos estágios recentes de poder que se instalaram no País.
A tecnocracia derivada da burocracia ganhou fôlego imenso na ditadura militar, quando era difícil o acesso aos gabinetes do poder em Brasília. Lembro de uma ocasião em que Aureliano Chaves, vice-presidente da República, que assumiu titularidade com uma viagem de Figueiredo aos EUA para cuidar da saúde pessoal, notificou os principais ministros de pastas estratégicas a integrarem a comitiva paa acompanhá-lo a uma vinda ao Nordeste, mais precisamente a uma reunião do Conselho Deliberativo da Sudene. E Delfim Neto, do alto da sua arrogância sesquipedal, posta a serviço da plutocracia paulista e dos Estados mais ricos, ameaçou não vir ao Nordeste pretextando que nada teria a oferecer à região nem tampouco dispunha de pachorra para ouvir a lamúria de governadores e secretários atrás de verbas. Aureliano não contou conversa e enquadrou Delfim a vir com ele ao NE sob pena de exoneração. É fato que Delfim não deu a mínima e fez cara de paisagem o tempo todo na reunião da Sudene. Mas o simbolismo era a autoridade de um civil como Aureliano diante da arrogância de um técnico serviçal de ditadura militar.
Quando foi senador pela Paraíba e ganhou da imprensa o apelido de “trator”, pela forma ostensiva com que brigava pelas nossas reivindicações, Ney Suassuna cunhou uma expressão ao ser ndagado por jornalista de que partido, afinal, ele era. “Sou do Partido da Paraíba”. Uma definição que resumia tudo – resumia todo o sentimento de compromisso de Ney para com o Estado, todo o sentimento de paraibanidade que se apossava dele no sentido de defender com unhas e dentes os pleitos e demandas de um Estado já sacrificado nas estimativas do PIB nacional. Esse Partido da Paraíba deveria ser uma instituição permanente, ainda que alternando componentes. Porque a Paraíba sempre vai precisar dos representantes que elege para o Congresso – Câmara Federal e Senado. E porque é dever desses representantes corresponderem aos votos de confiança que lhes foram repassados através das urnas. O povo não elege políticos para serem parasitas, mas, sim, para trabalharem em seu benefício. Pouco importa se este é um conceito acaciano, óbvio demais até. O óbvio, muitas vezes, precisa ser repetido para virar realidade.
Por Nonato Guedes