A prisão do ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ocorrida em Brasília por determinação do juiz Sérgio Moro, criou um clima de expectativa, mas, sobretudo, de agitação entre os políticos, entre os quais parlamentares paraibanos. Embora as atenções da bancada parlamentar da Paraíba estejam voltadas para reunião visando o consenso sobre emendas e liberação de recursos orçamentários para obras em 2017, senadores e deputados dividem atenções com o noticiário sobre os desdobramentos da prisão de Cunha, levado para Curitiba, onde vai depor perante o juiz Sérgio Moro.
O senador Lindbergh Farias, que é paraibano de João Pessoa mas representa o PT do Estado do Rio, manifestou a torcida para que Cunha faça uma “explosiva delação premiada”, o que, de acordo com ele, abalaria os tentáculos do governo de Michel Temer, que estaria envolvido em irregularidades em órgãos estatais. Cunha conduziu na Câmara a sessão que votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, posteriormente confirmado pelo Senado. Mas foi perdendo força, poderes e o próprio mandato. Sofreu uma derota acachapante em plenário na votação pela cassação do seu mandato de deputado. Já havia sido afastado da presidência da Câmara por medida cautelar do Supremo Tribunal Federal.
Eduardo Cunha diz não ver motivos plausíveis para a sua prisão, conforme a sua assessoria jurídica transmitiu a jornalistas nas últimas horas. Interlocutores do juiz Sérgio Moro argumentam, porém, que a decreação da prisão foi uma medida preventiva diante de suspeitas de que Eduardo Cunha, diante da pressão psicológica em torno dele e da mulher, Cláudia Cruz, tomasse a medida extrema de fugir do país. O receio, em paralelo, passa a ser quanto à ameaça que Cunha fez de incriminar uma leva de outros parlamentares caso fosse preso. Pelo menos um deputado paraibano, Hugo Motta (PMDB), que era mencionado pela mídia sulista como integrante de uma alegada tropa de choque de Cunha, foi o último a depor perante a Justiça em Brasília, só que na condição de testemunha de defesa de Cláudia Cruz, a mulher de Eduardo, arrolada em inquéritos sobre contas secretas na Suíça.
Enquanto petistas como Lindbergh Farias supõem que Cunha fará, na prisão, uma delação fantástica capaz de “explodir” o governo de Michel Temer, que os petistas consideram ilegítimo, parlamentares do DEM acreditam que o ex-presidente da Câmara fará revelações que devem incriminar figuras de proa do PT e de outras agremiações. Ele vinha dizendo, de forma monocórdica, que sozinho não cairia. Mas perdeu a presidência da Câmara, o mandato de deputado, as regalias a que tinha direito e o foro privilegiado. No último dia 13, a ação contra o ex-deputado Eduardo Cunha chegou à Décima Terceira Vara de Curitiba. Com a cassação do mandato e tendo perdido o foro privilegiado no Supremo, Cunha ficou nas mãos do juiz Sérgio Moro. Ele é acusado no caso de receber R$ 2,4 milhões em propina de um contrato da Petrobras e de usar contas na Suíça para lavar dnheiro. Moro havia expedido um prazo de dez dias para que Cunha apresentasse sua defesa.
Deputados como Hugo Motta e Manoel Júnior, do PMDB paraibano, sempre rechaçaram as insinuações de fazer parte de uma suposta tropa de choque de Eduardo Cunha. Na campanha eleitoral deste ano, em que concorreu como candidato a vice-prefeito na chapa do prefeito Luciano Cartaxo, vitoriosa, Manoel Júnior deixou claro que a associação do seu nome a atos praticados por Cunha tinha o único objetivo de tentar desgastá-lo e, por via de consequência, desgastar Luciano Cartaxo. Em plena disputa eleitoral, Manoel Júnior fez questão de ir a Brasília para participar da sessão que cassou o mandato parlamentar de Cunha – e ele estava entre os que votaram pela cassação por falta de decoro e de ética. A tensão ficou elevada em Brasília com as versões de que o presidente da República Michel Temer abreviou seu roteiro de visitas pelo Japão e estava retornando ao Brasil. Não houve explicação oficial para o retorno, mas a perspectiva de desdobramentos com o depoimento de Eduardo Cunha acendeu sinais de alarme em todas as direções.
Por Nonato Guedes