Aliados mais fiéis ao governador Ricardo Coutinho (PSB) mobilizam-se informalmente para que o gestor paraibano se credencie no plano nacional como candidato a presidente da República em 2018. Manifestações nesse sentido já circulam em redes sociais, com postagens tratando Ricardo como “nosso presidente” e não se descarta que haja uma massificação do projeto em eventos políticos que venham a se suceder daqui para a frente. Coincidentemente a onda intensificou-se depois que Ricardo, numa entrevista, admitiu permanecer no governo do Estado até o último dia, desistindo de disputar qualquer mandato eletivo, sobretudo o de senador, para o qual vinha sendo cogitado em círculos políticos.
As avaliações de interlocutores do chefe do Executivo levam em conta a própria conjuntura nacional, que estaria órfã de lideranças de maior expressão, no campo oposicionista, capazes de empolgar parcelas do eleitorado que estão reconhecidamente descrentes com a atividade política em face de escândalos denunciados e do envolvimento de figuras carimbadas do cenário brasileiro. Desde a morte do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que se preparou em 2014 para concorrer à presidência da República pelo PSB, há uma carência de nomes de projeção que possam influenciar os rumos da próxima eleição presidencial. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta manter-se em evidência dentro do PT como alternativa, mas a cogitação de um eventual retorno seu ao Palácio do Planalto está condicionada à inexistência de processos legais diante da citação de Lula em denúncias que são investigadas pela Operação Lava Jato. O ex-presidente foi considerado réu pela terceira vez e seu futuro pessoal é incerto quanto a acusações judiciais. Por outro lado, a ex-presidente Dilma Rousseff, que foi alvo de processo de impeachment, não firmou liderança própria nem capitalizou, como pretendia, a condição de “vítima”, sendo ofuscada pelo prestígio individual que Lula conserva.
Quem está se insinuando para ser candidato a presidente, pelo PDT, é o ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, que tenta obter respaldo junto a grupos empresariais influentes, especialmente em estados como São Paulo. Ciro já concorreu à presidência e não logrou, sequer, ir para o segundo turno. O PMDB tende a se compor com o PSDB na sucessão presidencial, quer em torno de um político tucano, quer em torno de uma hipotética reeleição do presidente Michel Temer, que ainda não é oficialmente admitida nos meios políticos. Ricardo colocou-se ostensivamente contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff e sustenta, em termos locais, na Paraíba, uma linha de contestação ao governo Temer, a quem acusa de reter verbas destinadas ao Estado e que teriam sido incluídas no Orçamento da União. O governo Temer é acusado pelo governador paraibano de ser cúmplice com atitudes de retaliação cometidas por ministros de pastas da área de infraestrutura. Ricardo argumenta que tem conseguido manter o equilíbrio financeiro a duras penas graças a uma política de contenção de gastos, mas não descarta que haja agravamento das dificuldades afetando o repasse de recursos do Fundo de Participação. Mesmo assim, ele dá sua palavra de que fará tudo para que a população não seja prejudicada.
Assessores e interlocutores políticos do governador Ricardo Coutinho acreditam que ele pode vir a ser favorecido ao assumir a bandeira anti-Temer, intercalando a discussão da problemática nordestina com o debate da conjuntura nacional com base em conceitos focados na adoção da Federação. Esse tema já embalou pronunciamentos seus em intervenções feitas durante reuniões nos fóruns de governadores, realizados no Nordeste ou em Brasília. Em termos partidários, o socialista não avança sinais de que pretenda deixar a agremiação, mas seus interlocutores admitem que a tendência de figuras da cúpula do PSB de apoiar o governo de Michel Temer pode servir de justificativa para que ele trabalhe na construção de uma outra opção partidária, em conjunto com líderes que também estão se sentindo incomodados em diferentes partidos. Ricardo tem tido uma trajetória vitoriosa e ascendente na Paraíba, como vereador em João Pessoa, deputado estadual, prefeito da Capital eleito por duas vezes e governador também eleito por duas vezes. Esse histórico, na opinião dos seus aliados, pode credenciá-lo a adquirir espaços e ser prestigiado numa ampla composição nacional com vistas à conjuntura política-eleitoral de 2018.
Por Nonato Guedes