Já faz algum tempo que políticos paraibanos aprenderam a entoar na prática o refrão de Geraldo Vandré – ‘quem sabe faz a hora, não espera acontecer’. Uma definição que o doutor Ulysses Guimarães considerava genial, como consta das suas frases elencadas no livro “Rompendo o Cerco”, que ele me autografou. Para Ulysses, a frase de Vandré encaixava-se no conceito político de que oportunidade é servir ao tempo e oportunismo é servir-se do tempo. Essas digressões vêm a propósito da notícia que publicamos sobre a chapa do acordão para 2018 entre forças de oposição ao governo Ricardo Coutinho – tendo o prefeito reeleito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, na cabeça, e o prefeito reeleito de Campina Grande, Romero Rodrigues, na vice.
Ambos – Cartaxo e Rodrigues, estão filiados a legendas que se distinguem por uma letra. O prefeito da Capital, que iniciou trajetória no PT, hoje o partido “cão danado’, migrou em tempo para o PSD, que no plano nacional não tem forte conteúdo ideológico nem grande tradição política mas que vem se firmando assim mesmo ou talvez por isso, numa conjuntura em que a descrença em relação a políticos é acentuadíssima. Cartaxo safou-se do PT de modo a não ser contaminado pelo vendaval que afastou Dilma da presidência e derrotou Fernando Haddad e duas ex-petistas em São Paulo, Luiza Erundina e Marta Suplicy. Romero, ligado aos Cunha Lima, está aboletado no PSDB, que, por enquanto, é sócio do PMDB na gestão de Temer. Sócio até certo ponto, claro.
Abstraindo a conjuntura nacional, é a correlação de forças na Paraíba que faz com que se dê a convergência Cartaxo-Romero. Na Capital, a aliança envolveu o PMDB, com a inclusão de Manoel Júnior na vice de Luciano Cartaxo. Em Campina, Romero lutou contra Veneziano Vital, do PMDB, e o derrotou. Socorrou-se de uma terceira via, o PP, trazendo de volta ao cenário o ex-prefeito e ex-deputado Enivaldo Ribeiro, pai dos deputados Aguinaldo e Daniela Ribeiro. A engenharia política em João Pessoa trouxe as digitais de Luciano e do irmão gêmeo Lucélio e o “placet” decisivo do senador José Maranhão, que controla o PMDB velho de guerra. Foi dito na campanha, pelo grupo do governador Ricardo Coutinho (derrotado nas urnas) que Cartaxo não cumpriria integralmente o segundo mandato. Luciano veio a público garantir que ficaria até o último dia. Mas o eleitor sabe que em política há essas contrafações da verdade.
Seja como for, embora distanciado de Ricardo Coutinho, Cartaxo segue um dos seus passos. O governador se elegeu prefeito da Capital duas vezes – na segunda gestão, deixou Luciano Agra como titular e foi disputar o governo do Estado. Ganhou, em 2010, reelegendo-se em 2014. Evidente que estamos falando de situações, não de coincidências ou de semelhanças. As campanhas, em geral, são atípicas a cada turno eleitoral, de modo que fica difícil estabelecer similaridade, ainda que seja possível vislumbrar comparações aleatórias. O fato é que está em marcha a chapa da oposição ao governo do Estado em 2018, colocando num dilema o gestor socialista que ocupa o Palácio da Redenção. A vice de Ricardo, Lígia Feliciano, sonha assumir o restante do mandato e arriscar, aí, a reeleição, enquanto Coutinho sairia candidato ao Senado. Ricardo faz suspense. Chegou a declarar que permaneceria no cargo até o último dia. Há quem diga que seu candidato “in pectoris” é o deputado estadual Gervásio Maia, que providencialmente deixou o PMDB, onde dificilmente teria espaço, e assinou ficha no PSB. O pai de Gervasinho foi secretário de Finanças da prefeitura numa das gestões de Ricardo. Atuava como espécie de xerife das contas públicas e soube manter o equilíbrio financeiro numa época em que proliferam gestões perdulárias pelo país.
De concreto, o xadrez político apresenta-se complicado para os lados do governador Ricardo Coutinho com vistas a 2018, diante das variantes que ele vai ter que assimilar eenquadrar num cenário sem muitas alternativas de acomodação. A situação se agrava pelo fato de que as prefeituras dos dois principais colégios eleitorais da Paraíba estão nas mãos de adversários políticos, que podem estimular um tropismo em direção a suas lideranças, já que o governo do Estado se sente retaliado pelo governo federal pilotado por Michel Temer e não oferece muita perspectiva de poder a quem adora sombra e água fresca no convívio do poder. Acresce que Ricardo Coutinho, até pelo estilo personalista, não gera herdeiros políticos nem transfere votos a quem tenta viabilizar nas urnas. Foi assim com Estelizabel Bezerra em 2012 na corrida pela prefeitura pessoense e agora em 2016 com Cida Ramos em igual cotejo. Estela salvou-se disputando vaga na Assembleia Legislativa, Cida segue na mesma trilha. Mas Ricardo tem os votos dele – para ele, até onde a vista alcança e os mapas do TRE demonstram.
Não é o caso de asseverar com certeza inquestionável que Luciano Cartaxo está de “melé solto” junto com Romero Rodrigues e que em princípio já está tudo certo já para que eles sejam ungidos em 2018. Em pouco tempo, pouquíssimo tempo, tivemos uma presidente deposta – Dilma Rousseff e temos um ex-presidente ameaçado de prisão, Luiz Inácio Lula da Silva. A conjuntura passa por transformações aceleradas – eis a constatação. Por outro lado, é preciso que as urnas do segundo turno sejam fechadas em diferentes Capitais brasileiras importantes, no que diz respeito à definição dos prefeitos. Há páreos complicados como o da prefeitura do Rio, que registra o confronto dos Marcelo – Crivella e Freixo. Em último caso, convém citar novamente Ulysses Guimarães sobre o perigo da dedicação a ninharias em detrimento de episódios maiores. “Quem só cuida de coisas pequenas, torna-se pequeno; a ninharia é o ofício do pigmeu e o terreno dos répteis”, obtemperava Ulysses, para concluir recorrendo ao provérbio oriental: ‘Meu pai negociava poeira e foi destruído por um golpe de ar’. As lições estão aí para ser aprendidas. Por quem quiser, é claro…
Por Nonato Guedes