Ainda que sejam passíveis de questionamento as fontes para remanejamento de recursos indicadas pelo governador Ricardo Coutinho em decretos de emergência que abrem crédito suplementar para pagamento de dívidas e quitação de despesas com a folha de pessoal do Estado, um mérito não pode ser subtraído do gestor socialista: o de enfrentar a crise. Outros que estivessem no seu lugar talvez ficassem de braços cruzados, esperando um “milagre” dos cofres federais em Brasilia. Ricardo já acionou canais para obter uma audiência com o presidente Michel Temer a fim de tentar flexibilização no rigor da política de austeridade adotada em relação aos Estados. Não há expectativa triunfalista do governador quanto a concessões por parte de Temer, até porque há má vontade em círculos do poder federal quanto ao administrador paraibano por ter defendido a ex-presidente Dilma Rousseff. Ainda assim, ele vai esgotar essa via, que lhe é conferida no plano institucional.
Fora daí, o governador sabe que tem que se coser com as próprias linhas, ou seja, cozinhar-se nas próprias banhas. É o que está fazendo com a abertura do crédito estimado em R$ 129 milhões. Ele demonstra que não está omisso diante da gravidade da conjuntura, fruto de uma conjunção de fatores – as restrições impostas por Brasília, mais especialmente pelo governo de Michel Temer, e as próprias dificuldades de ajustes ocorridas no âmbito da sua administração, por mais que, nesse ponto, ele se recuse a admitir culpabilidade. A oposição na Assembleia Legislativa questionou que os recursos remanejados estão sendo retirados de setores imprescindíveis para a vida do cidadão, como Saúde e Educação. “Os acertos poderiam ocorrer sem prejudicar setores que já são muito penalizados”, comentou o deputado Renato Gadelha, do PSC, líder oposicionista na Assembleia. Gervásio Maia, expoente da bancada governista, observou que é normal que haja esse tipo de ação nos governos. Mas garantiu que os ajustes não vão prejudicar a população e os setores atingidos com restrições.
É uma aposta, evidentemente, diante de um cenário de incógnita com que trabalha a administração do socialista Ricardo Coutinho. A verdade é que a tempestade chegou. Ela foi vaticinada, o governo foi advertido por segmentos da oposição, e é possível que tenha pago para ver ou que não tenha calculado, até então, a dimensão verdadeira da extensão do que está ocorrendo. Mas a oposição precisa ter uma postura cautelosa e responsável diante desse momento difícil que a Paraíba está atravessando, sob pena de ser inquinada de semeadora do caos e de faltar com o concurso de uma colaboração para equacionar um problema que deixou de pertencer a um governo para afetar uma população como o todo. Este é o desafio que Ricardo coloca para o julgamento da opinião pública.
O ponto indicativo do agravamento deu-se com o rebaixamento da Paraíba no ranking da Secretaria do Tesouro Nacional em termos de equilíbrio financeiro, provocando uma situação que impede a administração estadual de contrair empréstimos internos e empréstimos externos. Em outras palavras, o Estado perdeu por enquanto a condição de adimplente, que lhe servia de passaporte para dispor de aval e lastro de sustentação a operações financeiras de vulto. Quem já passou pelo comando de governos sabe perfeitamente o que significa esse rebaixamento e o ingresso na pontuação da “inadimplência”. O Estado atirado a tanto perde credibilidade ou confiança e encontra fechados canais que, de outra forma, estariam abertos com facilidade. A imagem, vertida para a linguagem popular, é a do Estado caloteiro – pelo menos enquanto perdurar a menção da Paraíba no índex de verificação de desempenho de outras unidades da Federação.
O governador Ricardo Coutinho tem absoluta consciência de todo esse estado de coisas. Mas está transmitindo à Paraíba e à sua população o recado cristalino de que não age como avestruz – enterrando a cabeça na areia para fugir da tempestade. A administração enfrenta de peito aberto as dificuldades ou a tal tempestade, a seu modo, dentro das suas técnicas próprias de resolução de problemas dessa natureza. Não é a primeira vez que tal se dá com a Paraíba. Mas será mal-visto quem atrapalhar, ao invés de contribuir com algum tipo de solução. Este é o sentimento dominante junto à própria opinião pública.
Nonato Guedes