O ministro das Cidades, Bruno Araújo, deixou a Paraíba, ontem, desapontado com a briga política entre grupos adversários que impediu a convivência de líderes como o governador Ricardo Coutinho (PSB), o prefeito da Capital, Luciano Cartaxo (PSD) e o senador tucano Cássio Cunha Lima (PSDB) nas solenidades de inspeção de obras de mobilidade urbana e de anúncio de recursos para projetos estruturantes no Estado. Em conversa reservada com dois deputados federais paraibanos, o ministro confessou ter ficado impressionado com o clima de radicalização política na Paraíba, lembrando que há disputas acirradas em outros Estados mas há união das lideranças adversárias na defesa dos projetos comuns, de interesse público.
No que diz respeito à Paraíba, a atitude deselegante partiu do governador Ricardo Coutinho (PSB), que ignorou a vinda do ministro e deslocou-se para cidades interioranas a pretexto de cumprir agenda administrativa. Ricardo, é certo, havia reclamado do governo do presidente Michel Temer, cuja legitimidade não reconhece, por supostamente dificultar a liberação de recursos a que o Estado tem direito. O que mais irritou Coutinho foi o rebaixamento da posição da Paraíba no ranking da secretaria do Tesouro Nacional, medida que gera obstáculos para a contratação de empréstimos externos e internos. Ricardo teria desabafado que foi um gesto humilhante, atribuído a uma retaliação pelo fato dele ter ficado ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff, contra o seu impeachment, afinal materializado.
O ministro Bruno Araújo tinha conhecimento de insatisfações pontuais do governador paraibano, segundo um deputado que fez parte da sua comitiva, ontem, mas não acreditava que o governador radicalizasse posições ao ponto de não dar importância à sua visita. Um dos parlamentares ouviu do ministro das Cidades a ponderação de que os recursos destinam-se ao povo paraibano, não especificamente a grupos políticos locais que administrem o Estado. Para ele, essa circunstância deveria fazer com que o governador Ricardo Coutinho relevasse divergências locais e diferenças com o governo federal para passar recibo da importância dos benefícios. Na entrevista coletiva, quando foi abordado a respeito, o ministro Bruno Araújo tentou pôr algodão entre cristais, minimizando a polêmica e salientando que respeitava o posicionamento do governador da Paraíba.
Bruno Araújo cumpriu agenda de compromissos tanto em João Pessoa como em Campina Grande e esteve com lideranças políticas e prefeitos municipais filiados a partidos diferentes. Ele deixou claro que o governo do presidente Michel Temer não discrimina localidades em termos de benefícios devido à origem partidária dos respectivos administradores nem barganha apoio em troca da liberação de recursos. Para um integrante da comitiva, o Palácio do Planalto já tinha conhecimento da linha oposicionista ao governo Temer adotada pelo governador Ricardo Coutinho mas havia uma expectativa de que fosse possível o diálogo com um ministro, como preparação para a audiência que o chefe do executivo estadual solicitou ao presidente Michel Temer. Esse informante não chega ao extremo de avaliar que a audiência seja cancelada ou que o governador saia de mãos abanando, todavia, ressalta que “posturas extremadas sempre tornam o diálogo mais complicado”. O senador Cássio Cunha Lima (PSDB) qualificou de mau exemplo a atitude do governador Ricardo Coutinho, que, na sua opinião, demonstrou não ter humildade para dialogar com representantes de um governo do qual é adversário. “Este não é um comportamento civilizado”, frisou, salientando que a bancada federal não criará dificuldades a projetos oriundos do governo paraibano e que sejam de interesse público.
Algumas fontes identificaram no gesto de Ricardo Coutinho uma estratégia para marcar posição na crítica aberta ao governo de Michel Temer, credenciando-se a um papel de liderança oposicionista a região Nordeste, onde, em regra, administradores procuram contemporizar com o Palácio do Planalto, mesmo não sendo ligados diretamente a Michel Temer. Por trás da estratégia de Ricardo estaria a hipótese, não admitida por ele, de cogitar uma candidatura a presidente da República em 2018. “Mas ele sonha com isto desde a morte de Eduardo Campos”, garantiu uma fonte qualificada, que tem acesso aos planos de Ricardo Coutinho para o futuro. De acordo com essa fonte, que reatou relações com o governador após um período de afastamento, o chefe do executivo está jogando uma alta cartada, “que pode dar errado mas, num golpe de sorte, pode favorecê-lo’. A tendência é que Ricardo continue como franco-atirador contra Temer, ainda que a Paraíba seja favorecida com obras ou recursos.
Por NONATO GUEDES