A Paraíba que o ministro das Cidades, Bruno Araújo, visitou, ontem, não foi a Paraíba hospitaleira, que recebe bem os que chegam, estejam de mãos abanando ou não. A faceta que ficou, lamentavelmente, foi de um mau exemplo político, protagonizado pelo governo do Estado e por certos aliados do governador Ricardo Coutinho que, além de boicotarem a presença do ministo, tratando-a como irrelevante, insípida e inodora (no dizer do líder governista na Assembleia, Hervázio Bezerra), insistem em negar legitimidade ao governo de Michel Temer, que se investiu com o impeachment de Dilma Rousseff, sacramentado pelo Senado sob a supervisão do Supremo Tribunal Federal.
Dissemina-se em alguns focos políticos do nosso Estado uma impressão surrealista – a de que o País assistiu, até bem pouco tempo, a um golpe, uma quartelada parlamentar para depor uma mandatária eleita a céu aberto com o voto da maioria dos eleitores. Essa leitura propositadamente enviesada não leva em consideração que o processo de impeachment possibilitou ampla defesa da então presidente afastada Dilma Rousseff – e que se houve motivação puramente política para o impeachment, isto se deveu a que a mandatária não criou áreas de contato com os representantes do povo na Câmara e no Senado. Pelo contrário: foi useira e vezeira no ofício de criar, apenas, áreas de atrito com os políticos.
Não vale tapar o sol com a peneira, a esse respeito, porque o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva promoveu gestões e entrou no circuito, por várias vezes, com o intuito de persuadir Dilma Rousseff a ser menos gerontona e mais maleável na relação com os integrantes de outros poderes ou instituições. Dilma fez ouvidos de mercador, para o que contribuiu uma certa arrogância que nela parece inata, por mais que não o seja. Em resumo: todos os fatos conspiraram para o melancólico desfecho do impeachment. Era algo absolutamente previsível, a despeito das tentativas de operacionalizar a “vitimologia” de Dilma, ora apresentando-a como vítima de um complô misógino, ora insinuando-se que o fisiologismo político foi o motor da desgraça da ex-gestora.
No que se refere ao comportamento do governo da Paraíba, é curioso que estando isolado politicamente e enfrentando duras restrições orçamentárias, queira partir para uma posição ostensiva de confronto com o Palácio do Planalto. Essa atitude belicosa tem sido o mantra do governador Ricardo Coutinho, que, no entanto, não deixa de pedir audiência formal ao “presidente golpista e ilegítimo”. É muita contradição para a cabeça do cidadão comum, que tem o duro dever de sobreviver e juntar dinheirinho para pagar impostos enquanto o governante do Estado pratica espetáculos pirotécnicos de queda de braço – desigual, diga-se de passagem – com o poder central.
A Paraíba não quer um governador medroso ou subserviente. Aliás, o povo paraibano abomina, por execrável, esse perfil de administrador, porque a consciência cívica foi forjada no culto aos sacerdotes do interesse público e no incentivo à altivez como característica de uma sociedade que, sendo hospitaleira, também sabe reagir quando insultada, como é da natureza humana em qualquer parte do planeta. Supõe-se que ministros do governo federal não deixem de vir ao Estado apenas por conta do desaguisado promovido pelo governador Ricardo Coutinho e alguns de seus aliados mais próximos. O Estado não recusa benefícios até porque não se trata de concessão generosa do governo de Michel Temer, mas de direito legítimo da população daqui.
A beligerância que ficou exteriorizada ontem sinalizou uma etapa de intolerância política que não encontra eco, nunca encontrou, junto aos segmentos mais politizados do povo paraibano. Os embates travados por homens públicos ilustres da Paraíba como João Agripino, Humberto Lucena, Antônio Mariz, para citar alguns, de fases mais recentes, sempre tiveram por escopo a defesa civilizada, educada, ainda que contundente, marcante. O que se tenta assentar na conjuntura atual é a base de uma política rastaquera, de terra arrasada, que não convém a um Estado que já perdeu tempo demais, nas divergências, para se dar ao luxo, a esta altura, de estar recusando aquilo a que tem direito ou que lhe é assegurado. Está na hora de acabar essa pantomima, que faz supor que ainda há palanque montado – quando de há muito o palanque foi desmontado na prática.
Por NONATO GUEDES