O Palácio do Planalto comunicou ao governo da Paraíba a inviabilidade de uma audiência com o governador Ricardo Coutinho (PSB) para trato de questões financeiras de interesse do Estado, alegando dificuldade na agenda do presidente Michel Temer. A informação, veiculada no blog de Gerson Camarotti no G1, teve ampla repercussão nos meios políticos paraibanos. O gesto de Temer está sendo avaliado como resposta às hostilidades dirigidas ao seu governo pelo gestor socialista paraibano. A gota d’agua foi o boicote de Ricardo à visita do ministro das Cidades, Bruno Araújo, anteontem, a João Pessoa e Campina Grande, a pretexto de inspecionar obras que contariam com a parceria do governo federal.
Ricardo negou participação do governo de Michel Temer nas obras, observando que, pelo contrário, o Planalto engavetou recursos que já haviam sido alocados para obras e investimentos em infraestrutura em nosso Estado. O ministro, ao ser abordado acerca do boicote de Ricardo à sua visita, respondeu que preferia não polemizar e disse que respeitava o posicionamento de qualquer um agente político. Acrescentou, porém, de forma enfática, que obras públicas não são propriedade de políticos, mas benefícios do povo. Bruno Araújo acabou sendo recepcionado pelo prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PSD) e pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB). Cássio, inclusive, deplorou a “falta de civilidade política” por parte do governador.
Ricardo Coutinho tem hostilizado o governo de Michel Temer desde que o então vice-presidente da República se investiu no período de afastamento de Dilma Rousseff para responder ao processo de impeachment instaurado no âmbito do Senado com a supervisão do Supremo Tribunal Federal. Concretizado o impeachment de Dilma e, na sequência, a investidura efetiva de Michel Temer, o governador da Paraíba passou a tratar o governo como “ilegítimo” e a dizer que não se sentia representado politicamente pela gestão Temer. Não obstante, protocolou um pedido de audiência ao presidente da República para protestar contra o rebaixamento de posição da Paraíba no ranking da Secretaria do Tesouro Nacional. A medida tem efeitos concretos negativos para o Estado, impossibilitando a administração de Ricardo de contratar empréstimos externos e internos, como era sua pretensão, dentro da filosofia de equilibrar as contas.
Apesar das insinuações do gestor socialista de que foi um rude golpe aplicado à Paraíba, o Palácio do Planalto deixou vazar a informação de que não se tratou de medida restrita ao nosso Estado, mas de regra que pode alcançar qualquer unidade da Federação que esteja inadimplente em relação à quitação de débitos ou possua outra pendência na esfera federal. A postura do governador paraibano tem sido classificada em Brasília por fontes oficiais como “extremada e belicosa” no julgamento da administração de Michel Temer, sobretudo quando insiste no argumento de que o governo que ele preside é ilegítimo.
Coutinho, apesar de ser do PSB, onde parcelas influentes apoiam o governo de Michel Temer, sustentou posição de alinhamento com a ex-presidente Dilma Rousseff, verberando contra o processo de impeachment do seu mandato, que, a seu ver, não foi amparado em circunstanciada justificativa legal. Fontes políticas paraibanas bem informadas revelaram “em off” que, no íntimo, o governador temia que a concretização do impeachment de Dilma desencadeasse uma reação em cadeia contra governadores como ele por parte de deputados estaduais adversários. Como corolário, ainda, da ofensiva de Ricardo, é citada a gave situação financeira, que o deixa de mãos atadas para cumprir compromissos. O secretário do Planejamento, Tárcio Pessoa, que esteve ontem na Assembleia Legislativa já descartou qualquer hipótese de concessão de reajuste salarial em 2017.
Por Nonato Guedes