O ministro Fernando Bezerra, das Minas e Energia, que veio hoje a João Pessoa para tratar de assuntos específicos ligados à Energisa, ficou constrangido com a notícia de que o presidente da República, Michel Temer, teria se recusado a receber em audiência o governador paraibano Ricardo Coutinho (PSB) a fim de tratarem da crise financeira do Estado. Bezerra, que é do PSB, o mesmo partido de Ricardo Coutinho, prontificou-se a falar com o presidente para que ele flexibilize a agenda e se encontre ainda hoje com o gestor paraibano.
Outros emissários do PSB com acesso a Temer, no plano nacional, também entraram no circuito para desfazer o mal-estar causado pela negativa do presidente em conceder uma audiência que foi protocolada em outubro por Coutinho, ao ser inteirado de que a secretaria do Tesouro Nacional havia rebaixado a posição da Paraíba no ranking oficial, com isto inviabilizando a tomada de empréstimos externos ou internos pela administração estadual. Por sua vez, o senador peemedebista José Maranhão foi cético ao ser indagado sobre o que achava da recusa de Temer em receber Ricardo. “Não creio que isso exista”, pontuou Maranhão.
A briga do governador da Paraíba com o governo federal vem adquirindo grandes proporções. Ontem, na passagem do ministro das Cidades, Bruno Araújo, pela Paraíba, o governador não deu o ar de sua graça em cerimônias realizadas pelo ministro com outras lideranças políticas paraibanas. Ricardo vem se dizendo retaliado desde que Temer investiu-se efetivamente na presidência, com o impeachment de Dilma Rousseff. O gestor socialista apoiou Dilma na questão do impeachment e esteve com ela quando de evento no Espaço Cultural, oportunidade em que verberou contra a legitimidade de Temer para ascender ao cargo. Desde então, as relações têm azedado e o governador insinuou “conspiração” de integrantes da bancada federal paraibana para prejudicar a sua administração em Brasília.
Antes de Maranhão, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB) havia se prontificado a mediar um entendimento do presidente da República com o chefe do Executivo paraibano. O incidente tornou-se preocupante para lideranças nacionais do PSB porque uma ala do partido manifestou solidariedade a Michel Temer e assegurou apoio a matérias do seu interesse no plenário do Congresso. O terceiro senador pela Paraíba, Raimundo Lira, do PMDB, não aprofundou comentários a respeito do m,al-entendido mas se disse aberto e disponível para facilitar conversações em proveito do Estado. Deputados federais de diferentes partidos deixaram claro que abrem mão de divergências locais para contribuir na solução de demandas ligadas ao desenvolvimento da Paraíba.
O governador Ricardo Coutinho qualificou de antidemocrática a postura do presidente Michel Temer, enfatizando que não lhe move a formulação de pleitos de interesse próprio, mas, sm, de reivindicações que atendam ao povo paraibano. Ricardo fez mesmo uma exortação ao presidente Michel Temer no sentido de que aja “de forma republicana e civilizada”, colocando as demandas dos Estados em plano prioritário, diante das imensas dificuldades que eles estão enfrentando para se desobrigar de compromissos assumidos. A repercussão do incidente tem sido intensa e já provocou debates acalorados na Assembleia Legislativa, entre aliados do governador Ricardo Coutinho e adversários seus.
Por Nonato Guedes