O governador Ricardo Coutinho formulou uma grave denúncia ao acusar senadores paraibanos de estarem conspirando contra os interesses superiores do Estado. São três os senadores no exercício do mandato pela representação parlamentar do nosso Estado: José Maranhão e Raimundo Lira, do PMDB, e Cássio Cunha Lima, do PSDB, este licenciado e sendo substituído por José Gonzaga Sobrinho, “Deca do Atacadão”. Até aqui, o que se conhece é o empenho da tríade política em carrear benefícios para a população paraibana, viabilizando empreendimentos de repercussão social. Isto ocorre ora por meio de emendas ao Orçamento Geral da União, exercício de 2017, ora através de gestões diretas e pontuais junto a ministros do governo do presidente Michel Temer para o encaminhamento e solução de demandas que se apresentam e que constituem desafio.
Faltou ao governador Ricardo Coutinho dar nomes aos bois – e esse é o tipo de denúncia que não comporta lapsos de citação nem insinuação aleatória. Qual é, governador, o senador paraibano que trabalha contra o Estado? Ou: quais são, governador Ricardo Coutinho, os senadores paraibanos inimigos da Paraíba? É fundamental que Sua Excelência aprofunde a denúncia imputada, respaldando-a de fatos concretos ou de provas documentais que atestem a prática escancarada da sabotagem – que é dirigida especificamente à sua administração mas que respinga no interesse do cidadão comum, aquele que está farto de promessas mas que ainda ousa dar um crédito de confiança aos seus representantes no Congresso quanto a ações proativas que lhe beneficiem.
A acusação surpreende, em certa medida, porque o que se viu, até a semana passada, foi um mutirão parlamentar para inserir projetos estruturantes nas emendas individuais ou de bancada – e no meio desse mutirão uma competição salutar entre os parlamentares sobre quem seria mais eficiente na definição de propostas consistentes que pudessem ser assimiladas. Por outro lado, é de bom tom lembrar que no embate eleitoral de 2014, em que o governador Ricardo Coutinho postulou a reeleição e foi vitorioso nas urnas, o senador José Maranhão conduziu o PMDB para o apoio ao socialista em segundo turno, passado o insucesso do então candidato Vital do Rêgo nas urnas no primeiro turno. Até então as coisas transcorriam às mil maravilhas, havia uma atmosfera de distensionamento político da parte de algumas facções, e Ricardo se permitia projetar a perspectiva de trafegar em céu de brigadeiro, abstraindo os solavancos que viessem a decorrer da conjuntura nacional, sempre instável, sempre oscilante.
De uma hora para outra, ou de uma eleição para outra, muda tudo, radicalmente. Opera-se uma guinada de 360 graus na relação institucional que vinha sendo mantida. Recomeça o tiroteio verbal entre os líderes paraibanos, deflagra-se uma caça às bruxas para identificar cabeças que estariam por trás de manobras maquiavélicas de péssimo gosto, com o intuito de prejudicar a Paraíba. A opinião pública, naturalmente, fica perplexa, um sentimento agravado pela desinformação sobre quem é quem na história – qual o político que está no papel verdadeiro de mocinho e qual o político que se encaixa na carapuça de bandido. Isto tem sido, a bem da verdade, frequente nos últimos anos na Paraíba, e não apenas no governo do socialista Coutinho. Cássio já se queixou de Maranhão, como Maranhão já se queixou de Cássio. Todos falam em republicanismo, em postura ética, em “partido da Paraíba”. No frigir dos ovos, o que se vê é um cenário partido, mutilado por divergências insanáveis, pela falta mínima de consenso sobre pauta relevante para o Estado.
Dê nomes aos bois, governador Ricardo Coutinho! Esse gesto pode mudar tudo, ter mais efeito do que a pirotecnia que se trava nos holofotes da imprensa.
Por NONATO GUEDES