A hipótese, que está sendo admitida em Brasília, de eleição do senador paraibano Raimundo Lira (PMDB) à presidência do Senado, pode suprir o Estado da falta de maior representatividade nas instituições políticas nacionais. Lira ocuparia um posto que foi exercido por duas vezes pelo falecido senador paraibano Humberto Lucena, a primeira no biênio 86-88, a segunda no biênio 94-96. Lucena estava no cargo máximo do Parlamento quando a Assembleia Nacional Constituinte realizou seus trabalhos, entre 1987 e 1988. Lira foi um dos integrantes da Constituinte, na condição de senador, enquanto Cássio Cunha Lima, atual senador pelo PSDB, fazia sua estreia em política como deputado federal constituinte.
Raimundo Lira exerceu postos influentes naquele mandato, como o de presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, por onde passavam a análise e aprovação de pedidos de autorização por parte de governadores para a contratação de empréstimos internos e externos. Mas Lira não se focou em cargos na Mesa Diretora. Ao retornar recentemente ao Senado, sucedendo a Vital do Rêgo, nomeado para ministro do Tribunal de Contas da União, Raimundo Lira foi escolhido para presidir a Comissão Processante do Impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff e teve uma atuação equilibrada e democrática, assegurando direito de defesa à ex-mandatária. O relator no Senado foi Antonio Anastasia, do PSDB-MG.
Nas duas vezes em que concorreu à presidência do Senado numa única legislatura, Humberto Lucena derrotou um concorrente de renome nacional – o senador Nelson Carneiro, do Estado do Rio, que ficou conhecido como autor do projeto convertido em lei instituindo o divórcio entre casais no Brasil e também derrotou, na corrida pela presidência do Senado, José Fragelli, representante do Mato Grosso. Humberto acabou tendo seu mandato cassado pelo TSE a pretexto de ter utilizado a Gráfica do Senado para a confecção de material de propaganda sua distribuída com eleitores da Paraíba. A cassação, que despertou reações de solidariedade ao parlamentar, foi revertida através de uma Lei enviada às duas Casas do Congresso e aprovada, pelo então presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Adversários de Humberto, como o ex-senador Efraim Morais, do DEM, reconheceram que não havia o mais remoto fundamento jurídico na punição imposta a Humberto. Coube ao então senador Antonio Mariz proferir o discurso mais veemente, acusando o TSE de ser o retrato da decadência moral das elites políticas brasileiras.
Humberto e Lira – Raimundo Lira foi eleito senador pelo PMDB da Paraíba em 1986 fazendo dobradinha com Humberto Lucena, enquanto Tarcísio Burity candidatava-se ao governo, também pelo PMDB, saindo vitorioso. Lira era considerado “azarão” no páreo, tendo em vista que não possuía tradição política maior, era oriundo do meio empresarial, embora colaborasse com campanhas políticas de outros atores nos bastidores. A vitória de Lira foi considerada uma façanha, inclusive, porque ele derrotou nas urnas um então campeão de votos, o ex-governador Wilson Leite Braga. Raimundo Lira cumpriu integralmente o mandato e depois se recolheu em termos de atuação política.
Voltou ao cenário recentemente, na condição de suplente de Vital do Rêgo e em virtude da sua renúncia ao mandato para assumir posto no Tribunal de Contas da União, para o qual foi designado pela presidência da República. O nome de Lira chegou a ser insinuado ultimamente como alternativa para concorrer ao governo do Estado em 2018, mas ele já havia deixado escapar a informação de que seu interesse seria o de se candidatar novamente ao Senado. Uma vez sacramentado presidente da Casa, na sucessão de Renan Calheiros, ele adquirirá visibilidade nacional e fortalecerá projetos políticos que porventura venha a cogitar. A mídia sulista destaca chances de ascensão de Lira à presidência do Senado afirmando que ele é considerado “ficha limpa” por não ter nenhum envolvimento com os escândalos que estão afetando políticos “carimbados” da paisagem nacional.
Por NONATO GUEDES