Ex-senador, ex-deputado federal, ex-candidato a governador e atualmente presidente do PSC na Paraíba, Marcondes Gadelha tentou ingressar no Partido dos Trabalhadores quando enfrentou problemas de convivência no antigo MDB (depois PMDB) na cidade de Sousa, no Sertão, seu principal reduto, mas foi vetado por petistas paraibanos que o acusaram de ser “burguês” e “nunca ter usado um macacão em porta de fábrica”. O relato de Marcondes consta do livro “Autênticos do MDB – Semeadores da Democracia”, de Ana Beatriz Nader, editado pela Paz e Terra. Os “autênticos” eram um grupo combativo do MDB que se opunha à ditadura militar e lutava por anistia e por uma Assembleia Nacional Constituinte. Essas credenciais, entretanto, não amorteceram a resistência a Gadelha dentro do PT paraibano.
Marcondes deixou o PMDB em 1982, na fase de reabertura política, em virtude do ingresso do seu então adversário Antônio Mariz na legenda. Filiou-se ao PDS com ficha abonada pelo então presidente João Figueiredo e pelo ministro da Justiça, Ibrahim Aabi-Ackel, e foi eleito senador em 1982 por essa legenda. Mais tarde, Gadelha se reaproximou de Mariz e chegou a ser secretário de Agricultura no breve governo que ele empalmou, já que morreu no primeiro ano devido a problemas de saúde que vinha acumulando. Na fase de migração partidária, Gadelha empolgou-se com o PT, que acabara de surgir no horizonte nacional. Procurou o PT, onde seu companheiro de grupo autêntico Freitas Diniz já estava instalado. “Fui recebido com muita alegria, o Lula teve reação de entusiasmo, acatando muito bem a ideia e inclusive enviou Jacó Bittar à Paraíba para preparar o meu ingresso no partido”, frisou Gadelha.
Depois de tudo acertado, a executiva do PT no Estado divulgou nota violenta nos jornais, em primeira página, dizendo que não aceitaria o ingresso de Marcondes devido à sua origem burguesa, por ser filho do usineiro José de Paiva Gadelha. A narração é dele: “Meu pai era empresário, eu nunca vesti macacão, não conhecia o sofrimento do trabalhador e, portanto, não podia ser aceito no Partido dos Trabalhadores. O curioso é que os componentes desta Executiva, poucos meses antes, precisamente na véspera do Natal de 81, de dentro da prisão de Itamaracá, onde estavam presos, escreveram uma bela carta assinada por todos agradecendo a minha luta pelos direitos humanos, liberdade, anistia e levantamento das censuras”. Um dos líderes do movimento contrário ao ingresso de Marcondes Gadelha no PT era José Calistrato, que, no depoimento, Marcondes ironiza: “Parecia nome de remédio para calo”. Em vista da restrição, que foi endossada no PT, Gadelha imaginou que não tinha mais opção por inexistir outro partido de oposição e restava-lhe ir para casa e deixar a política.
Foi quando o presidente João Baptista Figueiredo, o último do ciclo de generais, que promoveu medidas como a anistia permitindo a volta de exilados ao Brasil, chamou Marcondes Gadelha para uma conversa em Brasília e ofereceu-lhe abrigo no PDS. Em contrapartida, pedia a ajuda de Marcondes para o enfrentamento dos desafios decorrentes da abertura política. E foi assim que Gadelha ingressou no PDS. Ele disse que respondeu: “Está bem, Presidente. Enfrentaremos essa luta juntos”. Salienta que sua entrada no PDS foi um verdadeiro corredor polonês porque começou a levar paulada dos dois lados – de antigos companheiros do PMDB e dos novos companheiros do PDS. Mas o que lhe marcou profundamente foi o veto oposto pelo PT. Na sua opinião, o radicalismo predominante quando da fundação do PT afastou muitos quadros dessa agremiação.
Por NONATO GUEDES