O calendário eleitoral de 2018 sinaliza para uma oportunidade excepcional: a chance do eleitor consciente em eleger candidatos que tenham reconhecidamente “ficha limpa” na vida pública, expurgando os que tentam driblar a legislação maquiando currículos, omitindo fatos, fugindo ao enfrentamento da verdade. É possível que em 2016 já tenha ocorrido uma prévia do processo de purificação nos quadros políticos, durante as eleições para prefeitos de Capitais, de cidades médias e cidades pequenas. O impacto que os escândalos políticos têm tido junto ao eleitor é muito forte. Há como que um sentimento de nojo à mera lembrança de tantas falcatruas cometidas, de tanta roubalheira executada em diferentes quadrantes do território nacional.
Não há ilusão de que seja feita uma varredura completa – afinal, esse é um processo delicado, que envolve a comprovação de suspeitas, a confirmação de denúncias, a existência de prova provada sobre os gatunos da política, as aves de rapina que se especializaram ao longo dos anos em saquear o erário. No episódio do mensalão, que foi gerado no ventre do Partido dos Trabalhadores mas se espraiou por outras agremiações igualmente contaminadas pela ambição, o país foi apresentado a formas disfarçadas de organizações criminosas infiltradas nos agrupamentos partidários. Esta foi a grande constatação a que chegaram ministros do Supremo Tribunal Federal, debruçados sobre as ramificações de um esquema de desvio que tinha vasos comunicantes em partidos como o PTB, o PL, o PP e outros que compõem o cenário institucional brasileiro.
O mensalão foi definido apropriadamente como “um ponto fora da curva” por um dos integrantes da Corte Suprema, exatamente porque indicava o surgimento de uma nova modalidade de assalto ao erário público. O disfarce podia ser o caixa dois ou o que um dos criminosos, Delúbio Soares, denominou de dinheiro não contabilizado. E não contabilizado justamente porque era de origem duvidosa, situando-se muito próximo da fronteira do ilícito, do marginal, do fora da lei. Tal configuração ficou expressamente nítida na evolução das investigações, na própria tomada de depoimentos e no trabalho pericial que possibilitou o rastreamento, os focos de circulação do dinheiro pelos antros da gatunagem política.
Na sequência veio o petrolão – e este foi mais complexo ainda, porque já não envolvia mais a compra de apoio político de agremiações no Congresso Nacional, mas sim o ataque aos cofres públicos para favorecer grupos, para empanturrar de dinheiro e de benesses os privilegiados da antiga ordem, hoje uma republiqueta decaída, afastada do poder a bem da moralidade e do retorno dos bons costumes. A sociedade estava dolorosamente violentada em seus princípios de cidadania. A democracia, por sua vez, fora ferida de morte com a ascensão e permanência no poder de figuras que se revelaram ervas daninhas ao interesse público, cupins incrustados na máquina do Estado.
Houve que uma catarse nacional diante do confronto com o cipoal de irregularidades, de falcatruas, de malfeitos descobertos ao cabo das apurações conduzidas inicialmente pelo Ministério Público, onde jovens procuradores tomaram a si a tarefa de oxigenar o processo político, de devolver às instituições o mínimo de normalidade e lisura que devem ostentar dentro da regra essencialmente democrática. Chamados à colação, os eleitores começaram a fazer sua parte, mas sabem que ainda terão desafios pela frente, terão que completar a purificação na eleição presidencial, nas eleições de governadores, de senadores e deputados federais. Este acerto de contas tem data marcada e a expectativa é intensa. Porque depois das eleições de 2018 poderemos avaliar se avançamos de verdade ou não na eliminação dos fichas sujas que resolveram infestar o panorama político brasileiro. A hora e a vez estão se aproximando para o tiro de misericórdia na imoralidade.
Por Nonato Guedes