A hipótese do senador paraibano Raimundo Lira, do PMDB, vir a postular a presidência do Senado no próximo ano, corre o risco de ser atropelada pela movimentação do senador Eunício Oliveira, do Ceará, que já teria assegurado o apoio do presidente Michel Temer a essa pretensão. Na coluna “Radar”, a revista “Veja” insinua que Eunício tem grande prestígio junto a Temer e cita como exemplo a sua presença na mesa com o presidente e com chefes de Estado estrangeiros na semana passada. O fato teria provocado estranheza, uma vez que os ministros José Serra e Henrique Meirelles, também presentes, ficaram em mesas menos nobres.
Questionado a respeito, Temer teria explicado, ao fim do evento, segundo o relato de “Veja”: – Foi uma deferência ao futuro presidente do Senado. O senador Raimundo Lira, que voltou à Casa substituindo a Vital do Rêgo, nomeado como ministro do Tribunal de Contas da União, não se declarou oficialmente em campanha para tentar presidir o Senado, reeditando outro paraibano ilustre, Humberto Lucena, que chegou ao comando da instituição por duas vezes, derrotando Nelson Carneiro, do Estado do Rio, e José Fragelli, do Mato Grosso. Lira, não obstante, tem ganho visibilidade entre seus pares e é considerado “ficha limpa”, na definição de órgãos de imprensa do Sul.
Ele foi o presidente da Comissão Processante do impeachment da então presidente afastada Dilma Rousseff e o seu comportamento foi elogiado por aliados e adversários de Dilma, por ter assegurado amplo espaço de defesa à ex-mandatária. Raimundo Lira, que foi eleito senador em 1986 e presidiu a influente Comissão de Assuntos Econômicos da Casa, tem se destacado na atual legislatura por atuação em comissões internas e por pronunciamentos sobre temas de interesse do Nordeste e do país. Tem se pautado por uma postura não-radical e diz que leva em conta, sempre, o interesse público por ocasião das declarações de voto que pronuncia ou dos pareceres que emite em matérias submetidas ao Poder.
O atual presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, é um político controverso, que tem processos judiciais e estaria na iminência de ficar excluído da linha sucessória constitucional do presidente da República, segundo interpretação dominante em algumas áreas em Brasília, devido às ações judiciais que são movidas contra ele. Renan foi quem propôs a concessão de uma espécie de anistia política a Dilma por ocasião da decretação do impeachment, sugerindo que não lhe fosse aplicada a pena de inabilitação de direitos políticos por dez anos, tal como ocorreu em 92 com o ex-presidente Fernando Collor de Melo. Atualmente senador, Collor protestou contra a cláusula sugerida por Renan, seu ex-aliado político, salientando tratar-se de um privilégio injusto em relação a políticos como ele.
Lira tem evitado se antecipar em pronunciamentos a respeito dessas questões polêmicas, por entender que precisa ouvir, ainda, a expressão de outros integrantes do colegiado em torno dos assuntos. Também não avança comentários sobre virtual candidatura a presidente do Senado. Mas já confidenciou a interlocutores de sua confiança que não se coloca como alternativa para disputar o governo estadual em 2018, dando a entender que seu projeto seria o de candidatar-se à reeleição ao Senado, aproveitando o fato de ter voltado ao cenário político nacional e já estar ocupando posições de destaque.
Por NONATO GUEDES