O presidente Michel Temer mantém uma postura apreensiva diante de protestos populares contra a gestão que ele empalmou no vácuo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Algumas das manifestações são promovidas, realmente, pelos órfãos do lulopetismo-dilmismo, que não se conformam com as prisões de cabeças coroadas do partido envolvidas em escândalos como mensalão e petrolão, não absorvem o impeachment de Dilma, que qualificam como golpe, e rechaçam qualquer possibilidade de o ex-presidente Lula vir a ser preso, embora esta seja uma medida previsível diante do acúmulo de provas que, de algum modo, incriminam o fundador do Partido dos Trabalhadores.
Temer sabe que rege um governo de emergência, construído dentro da legalidade como consequência do impeachment que ocasionou a vacância na presidência da República. Sabe, também, que essa legalidade é questionada pelos que foram apeados do poder, com uma recorrência irritante, levada a fóruns internacionais que não são confrontados com outras versões. Dilma aposta na vitimização, ora porque é um bálsamo para suas aflições e para a angústia de ter sido apeada do cargo máximo, ora porque deseja capitalizar para si e para o PT focos naturais de inconformismo com a ausência de soluções concretas por parte do governo de Michel Temer para os inúmeros desafios que estão postos na mesa.
O presidente Michel, reconhecidamente, não tem carisma. É possível, inclusive, dizer-se que a exposição da primeira-dama Marcela é parte da estratégia para suavizar o estilo pouco afetivo que emana da parte do atual mandatário. Abstraindo essas ilações, naturalmente subjetivas, o que o governo de Temer precisa, com urgência urgentíssima, é apresentar medidas de efeito prático que devolvam à população oportunidades de trabalho. E, também, é imperioso que a gestão Temer dialogue com a sociedade em torno da agora denominada PEC 55, que aparenta configurar um retrocesso, com a perda de conquistas econômicas, sociais e trabalhistas duramente alcançadas em décadas de militância. Ser o governo do atraso não é uma boa referência para Temer – ou qualquer presidente da República.
Qualquer cidadão comum pode atestar, numa pesquisa a que for submetido, que sua atitude é de inquietação quanto ao que possa vir e que ninguém de bom senso está em condições de prever, vaticinar ou adivinhar, porque as mudanças estão condicionadas a uma engrenagem enraizada dentro do chamado sistema e, por outro lado, dependem do crivo de um Parlamento que é cada vez mais sensível à voz rouca das ruas por uma questão até de sobrevivência. Temer já dispôs de tempo suficiente para preparar uma agenda positiva mínima e apresentá-la à sociedade brasileira, não como espécie de pomada maravilha capaz de resolver todos os males num passe de mágica, mas como alternativa ao que foi desmantelado pela República petista enclausurada no poder desde os tempos de Luiz Inácio Lula da Silva.
Esperava-se que Temer estivesse, de fato, preparado para a emergência de assumir a presidência da República, do ponto de vista de desfraldar um programa ambicioso de reformas – tudo o que a sociedade cobra. Mas reformas benéficas, que melhorem o padrão de vida da população brasileira. As reformas maléficas têm sido impostas cotidianamente à sociedade. Sem recorrer à tentação do populismo, Temer está sendo chamado à colação; está sendo desafiado a provar que é melhor que o governo de Dilma e que tem compromissos concretos com a transformação desta adorada Pátria Mãe Gentil.
Por Nonato Guedes