Em fração de horas, dois ex-governadores do Estado do Rio, que já sediou a Capital federal, foram pilhados na Operação Lava Jato. Houve cenas trágicas e cômicas – impagável o “sarro” que um governador tirava do outro em redes sociais quando, de repente, “chegou nele”. O que o cidadão comum indaga é o que será preciso mais ainda para provar que a Lei vale para todos neste país, que nenhuma autoridade está acima dela e que quem pecou vai ter que pagar alguns, senão todos, os pecados. Pensava-se que isto já estivesse cristalino nas mentes e nos corações de brasileiros e brasileiras. E é certo que a maioria que se esfalfa, honestamente, para sobreviver, cumpre o dever de cidadania, enfrentando a azáfama, os atropelos, os problemas no trãnsito, o besteirol dos políticos, enquanto a minoria que se julgava intocável se refestela em ambientes luxuosos, em piscinas calientes. Pelo menos até a chegada da Federal.
O que está mobilizando o Brasil é o combate à corrupção, erva daninha que talvez venha sido plantada aqui pelas caravelas de Cabral deslumbradas com a constatação apriorística de que nesta terra, em se plantando, tudo dá. Sobretudo a espécime “corrupto”. Esta tem sido de uma amplitude inimaginável e, diga-se a verdade, até democrática, porque nivela a todos. Alguém gritará na fila que está faltando o ex-presidente Lula. Está e não está. O doutor Sérgio Moro já agendou depoimentos dele na próxima semana. É preciso levar em conta que juízes, promotores, policiais, têm uma agenda a cumprir – e que esse cronograma está subordinado a fatos de cujo teor somente essas figuras têm pleno domínio. Mas não me consta que haja exceção, que alguém esteja sendo privilegiado enquanto outros são jogados na cova dos leões. Ou no presídio da Papuda, que virou recinto vip de personalidades decaídas, com os dedos sujos de tinta do fichamento como indiciados ou culpados. Por crimes contra o povo, contra o erário.
Petistas empedernidos e apaixonados bradam que há grupos ávidos, sequiosos além da conta, para pôr as algemas no Lula. A verdade? Quem criou o clímax foi o próprio Lula, que por conta dos pesadelos cultivados com o japonês da Federal, socorreu-se de Deus e do mundo, da OEA, da ONU, para dizer-se vítima de uma ameaça – não se sabe de quê. Ameaça à sua integridade física pode haver em parte na proporção da restrição dos seus passos de acordo com a Lei, por estar incriminado em fatos comprometedores a respeito dos quais deve explicações. Lula não pode estar, a vida toda, querendo levar as pessoas no “gogó”, protagonizando cenas pueris de pantomima que não comovem plateias – exceto aquelas que são remuneradas de algum modo para baterem panelas a seu favor.
Ainda que Lula não fosse preso, sua biografia está destruída – inapelavelmente, infelizmente. Tenho para mim que o patrimônio maior de um homem é, justamente, o seu legado, o que ele constrói, o que ele deixa de positivo. Lula edificou um partido, o PT, que está ameaçado, inclusive, de cassação, por assalto aos cofres públicos e particulares. Lula presidiu dois governos em que, enquanto divertia a patuléa com bolsa isso, bolsa aquilo, enfaiava as mãos em bolsos mais apetitosos, aqueles cevados nas falcatruas na Petrobras e em tantos e tantos órgãos públicos. Lula não é inimputável, que fique bem claro. Também não se está cometendo a presunção de culpá-lo sem provas. O que se está querendo é que ele responda ao cipoal de acusações. A partir daí, teremos a dosimetria das penas. Sim, porque, de um modo ou de outro, Lula pagará alguma pena. Ninguém está acima da Lei – é preciso repetir?
Por Nonato Guedes