A pergunta tem sido feita em rodas políticas e é objeto natural de especulação de analistas e repórteres que tratam da conjuntura paraibana: o senador Cássio Cunha Lima (PSDB) vai disputar novamente o governo em 2018? Há uma derrota no histórico do parlamentar – a primeira enfrentada em sua trajetória, quando, em 2014, foi derrotado por Ricardo Coutinho que postulava a reeleição. Havia a impressão de que o governo ia mal das pernas e é certo que Ricardo deixou para a undécima hora a escolha do nome para a vice, optando pela doutora Lígia Feliciano, mulher do deputado federal Damião Feliciano, do PDT. A chapa foi vitoriosa.
Cássio atraiu como companheiro de chapa o então deputado federal Ruy Carneiro, compondo uma chapa puro-sangue que foi considerada temerária em alguns setores por não acrescentar apoios externos substanciais, embora o remanejamento de Ruy possibilitasse o rateio de votos do seu espólio entre candidatos como Pedro Cunha Lima, filho de Cássio. Ricardo Coutinho surpreendeu aos menos avisados e cravou mais uma vitória no seu currículo. Cássio tinha contra si um desgaste natural de disputa por cargos executivos, uma vez que foi candidato em 2002, eleito, e em 2006, igualmente eleito. É verdade que não concluiu o segundo mandato devido a uma ação fulminante do TSE que o afastou em 2009, determinando a ascensão de José Maranhão, o segundo colocado, que tinha como vice Luciano Cartaxo, prefeito reeleito de João Pessoa.
A disputa pelo Palácio da Redenção em 2014 tinha, para Cássio, o significado de revanche, ou reparação, por não ter completado o segundo mandato conquistado nas urnas. O TSE entendeu que ele praticara conduta vedada e suposta improbidade, acatando representação de adversários como o próprio Maranhão. Prolatada a sentença, Cunha Lima obtemperou que havia sido vítima do maior erro judiciário da história do país. Uma comparação, naturalmente, hiperbólica, mas compreensível diante das circunstâncias e de uma particularidade traumática na família: o pai, o poeta Ronaldo Cunha Lima, fora cassado quando completou 43 dias como prefeito eleito de Campina Grande no final da década de 60. A cassação foi arbitrária, sem direito de defesa – já estávamos sob a égide do regime militar, de exceção e dos famosos Atos Institucionais. Em 82, eleito prefeito pelo voto direto, Ronaldo acabou beneficiado por uma prorrogação nacional que deu ao mandato a duração de seis anos. Foi uma meia-reparação pela injustiça de que foi vítima em 68. Aliás, à cassação de Ronaldo no regime militar, seguiu-se uma intervenção federal, com a figura de um militar de confiança da caserna que, em termos administrativos, foi um desastre para a Rainha da Borborema.
O calendário avança, claro, e o que se debate é o destino político de Cássio, expoente maior do “clã”, desde a morte de Ronaldo e preparado pelo próprio pai para chegar a tanto. Ou a mais ainda – talvez a presidência da República. Essa hipótese não é descartada pelos cassistas mais fanáticos ou ortodoxos, nem por cardeais eminentes do próprio PSDB. Mas Cunha Lima mantém uma visão realista ou pragmática diante dos acontecimentos políticos. Ele está focado prioritariamente na questão estadual. Até porque, no plano nacional, o PSDB corrói-se com a divisão entre Geraldo Alckmin, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais. José Serra anda providencialmente ocupado com o ministério das Relações Exteriores e com os cisnes do lago do Palácio Itamaraty em Brasília.
Não sendo candidato a governador nem aspirando o sonho de vir a ser candidato a presidente da República, restaria a Cássio o projeto de laborar para se reeleger ao Senado, instituição onde os mandatos, por enquanto, são indefinidos, desde que chancelados pelo voto popular. Mas há um fato novo para o qual poucos estão reparando ou prestando atenção: e se Cássio estiver “preparando” o filho Pedro para disputar o governo do Estado, seguindo os seus passos? É bem verdade que Cássio se atirou na política como deputado federal e, depois, fez estágio como prefeito reeleito de Campina Grande. Pedro, talvez, precisasse passar, também. pelo estágio administrativo municipal, credenciando-se posteriormente ao Palácio da Redenção. Seguiria, mais diretamente, os passos do avô, Ronaldo, com quem tem afinidades poéticas. Seja como for, é um quadro que deve ser levado em conta nas análises ou nas equações políticas dos chamados “experts”. A conferir, por óbvio.
Por Nonato Guedes