O senador Raimundo Lira reafirmou que não cogita ser candidato ao governo do Estado nas eleições de 2018, mas, sim, pleitear a reeleição ao Congresso. Filiado ao PMDB, ele era suplente de Vital do Rêgo Filho, que foi nomeado ministro do Tribunal de Contas da União no final do governo de Dilma Rousseff e, com isto, renunciou ao mandato. Lira ascendeu à titularidade e desde então vem se destacando. Foi escolhido presidente da Comissão Processante do Impeachment da então presidente Dilma e manteve atuação equilibrada, assegurando direito de defesa à ex-mandatária. Ele se preocupou, também, em não antecipar declaração de voto, salientando que se encontrava em posição equivalente a de um magistrado.
Lira havia sido senador apenas em um mandato – vigente já a partir do final da década de 80. Empresário do ramo automobilístico, com base de operações em Campina Grande, depois expandida até à Capital da República, Lira compôs a chapa de candidatos ao Senado pelo PMDB nas eleições de 1986 que tiveram Tarcísio Burity como candidato ao governo. Até então, não havia disputado nenhum mandato político, embora, nos bastidores, tivesse contribuído com campanhas eleitorais. Em virtude dessa peculiaridade, foi tratado como “azarão” pela crônica política quando postulou o Senado, em conjunto com Humberto Lucena, também vitorioso. Uma outra façanha de Lira, no período, foi a de derrotar um campeão de votos, o ex-governador Wilson Braga, que o enfrentou na corrida ao Senado.
Ele atuou numa legislatura marcada por mudanças políticas profundas no país. Em 88 foi convocada a Assembleia Nacional Constituinte, presidida por Ulysses Guimarães, que legou ao país a chamada Constituição-Cidadã. No âmbito parlamentar, Lira foi presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, incumbida de apreciar empréstimos internos e externos favorecendo a União, os Estados e municípios. Ele se desalinhou politicamente do governador Tarcísio Burity por divergências que eclodiram logo no início da administração. Transferiu-se para o PFL e cogitava disputar o governo do Estado em 90, possivelmente com o apoio do presidente Fernando Collor de Melo, que havia sido eleito em 89 derrotando pesos-pesados da política nacional. A hipótese não se concretizou e Collor acabou sofrendo processo de impeachment em 1992, além de ter sido punido com a perda de direitos políticos por oito anos.
Com a dinâmica dos acontecimentos e uma vez concluído seu mandato no Congresso, Lira retomou as atividades empresariais. Nesse período, como afirma, não deixou de estar atento aos problemas de interesse da população paraibana e ampliou canais de interlocução na estrutura de poder. A política sempre se manteve ativa na sua trajetória, tanto assim que foi convidado para suplente de Vital do Rêgo e aceitou o chamamento. Bafejado pelas circunstâncias, ascendeu à titularidade e pretende concorrer novamente ao Senado. Ele informa que em Brasíla tem procurado interagir com prefeitos e lideranças políticas de municípios paraibanos, encaminhando reivindicações consideradas pertinentes. Lira foi protagonista recentemente da audiência entre o presidente Michel Temer e o governador Ricardo Coutinho para tratar da crise financeira da Paraíba. Foi ele que mediou com Temer o encontro com o governante socialista, tendo sido convidado a também participar no Palácio do Planalto. Dessa audiência nasceu a proposta de negociação de ministérios da área econômica federal com governos estaduais a fim de equacionar pendências. “A Paraíba está beneficiada nesse contexto”, observa Lira.
Nonato Guedes