O momento é de apreensão entre o 1,3 milhão de brasileiros que moram nos Estados Unidos – e o receio atende pelo nome de Donald Trump. O presidente que foi eleito derrotando Hillary Clinton protagonizou uma das mais imprevisíveis campanhas eleitorais de que se tem notícia. Xingou imigrantes, atacou mulheres, agrediu jornalistas. O bilionário tinha em mãos uma metralhadora giratória que ele fez funcionar a esmo, disparando contra alvos visíveis e invisíveis. Pode ser que tudo não tenha passado de coreografia do “canastrão” agora presidente eleito. Mas a sensação que se espalha é a de medo. Eu confesso: tenho medo. Nunca atravessei fronteiras do Brasil para ir a qualquer país e nem morro de amores pelos EUA. Tenho amigos e parentes de pessoas amigas que foram para lá já há algum tempo atraídos pelo chamado sonho americano de grandeza, de vitória.
De um modo geral, todos os candidatos a presidente e todos os presidentes alçados à Casa Branca baseiam seus discursos e suas plataformas nessa mística da redenção da América. Há, por trás disso, uma frustração enraizada: os Estados Unidos foram perdendo espaços com a própria globalização que estimularam e não dão a palavra final em muitos assuntos pertinentes à humanidade. Isso acarreta uma frustração imensa para quem se acostumou a ganhar sempre, perder jamais. O mito da superioridade yankee foi construído em cima dessa utopia, que não é infalível, como tem sido demonstrado ao longo do tempo e das jornadas históricas.
Trump mete medo porque é uma incógnita absoluta. É incapaz de formular um raciocínio linear, fundado em princípios como justiça social, solidariedade para com os povos subdesenvolvidos, aliança em favor do Bem. Histriônico, tal como ficou celebrizado na televisão, esse personagem tem uma mente doentia cujos valores estão fincados no racismo, na intolerância. E, se for possível, na guerra. Dá a impressão de ser um aventureiro rodeado de armas por todo o corpo, olhando para todos os lados para mirar melhor em quem pretende acertar. Numa época em que mais do que nunca o mundo quer PAZ, Trump acena com a guerra. Ele não é generoso, nunca o será. A sua índole é outra, focada na ganância, no lucro egolatrado. E no poder para destruir, não para fazer o bem.
O sucessor de Barack Obama, o primeiro negro a assumir a presidência dos Estados Unidos, é a negação dos valores da tolerância, do respeito às liberdades, do compromisso com a geração de sociedades humanamente habitáveis. O poder, para Donald Trump, é um brinquedo a mais que ele pode comprar para aumentar a sua coleção. A desvantagem é que é um brinquedo perigoso, de megatons que podem ser despejados nos mais longínquos rincões do Planeta Terra. Trump precisa ser contido. Ele não pode ter imunidade para cometer o que bem quiser. O mundo está dividido em blocos concêntricos, mas de certa forma homogêneos nas pautas específicas. Trump não soma, Trump divide. Pior ainda: Trump é um demolidor.
O mundo não precisa de demolidores nem de obcecados pelo poder, o que revela uma visão enferma, profundamente enferma. Tomemos algum antídoto contra a carga de males que esse cidadão simboliza. Não podemos ficar à mercê de um arrivista que acha que tudo pode. Trump pode muita coisa. Mas Trump não pode tudo. Esse é o limite.
Por Nonato Guedes