O economista paraibano Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda no governo de José Sarney, afirma em seu artigo na revista “Veja” que, mesmo sem ter intenção, a ex-presidente Dilma Rousseff acabou prestando, “com enormes custos”, dois favores ao Brasil. “Primeiro, provou que ideias fracassadas de política econômica não se tornaram virtuosas sob gestão petista. Segundo, acelerou o encontro com uma dura realidade fiscal, o que antecipou uma agenda da qual o país não escaparia, talvez quando as contas estivessem mais fragilizadas”. Também sem querer, de acordo com Maílson, Dilma contribuiu para o senso de urgência entre a classe política no sentido de responder aos desafios da crise.
Ele se refere, diretamente, a medidas que chama de “desenvolvimentistas equivocadas” e que foram malsucedidas em outros momentos. “Na verdade, a adoção dessas medidas teve início com Lula. Foi ele quem degradou a autonomia e a qualidade das agências reguladoras. A desastrosa lei sobre a exploração do petróleo do pré-sal foi essencialmente lulista e nos fez perder tempo e oportunidades, obrigando a Petrobras a assumir encargos que impuseram à estatal um insano endividamento. “A corrupção institucionalizada na empresa começou no governo de Lula”, adianta.
– Dilma continuou a marcha da insensatez. Restabeleceu a regra de conteúdo nacional mínimo, em especial na exploração do pré-sal. Desprezou lições da história que haviam provado que o protecionismo inconsequente inibe a adoção de tecnologias avançadas, o que prejudica a produtividade e o potencial de crescimento. Ela reintroduziu o controle de preços de combustíveis, causando enormes prejuízos à Petrobras e aos produtores de etanol. Sua pior ação intervencionista foi a Medida Provisória 579, com efeitos negativos ainda não de todo absorvidos. As consequências foram devastadoras – opina Maílson da Nóbrega. O ex-ministro prossegue: “Dilma levou o Brasil à beira do precipício, mas, como no velho ditado, há males que vêm para o bem”.
Para o economista, os resultados nocivos e o custo social da adoção de ideias fracassadas podem contribuir para que se aprenda, para sempre, que o “desenvolvimentismo” ressuscitado das tumbas dos erros do passado não pode ser revivido. Ao levar ao extremo a insensatez de políticas fiscais suicidas, a ex-presidente retroagiu à irresponsabilidade inaugurada com a Constituição de 1988. Isso nos pôs diante da hora da verdade. Desse modo, ainda que por vias tortas, ela terminou por prestar favores ao país.
Nonato Guedes