O secretário de Planejamento do Estado, Waldson de Souza, considera que a estiagem que se abate sobre o território paraibano constitui uma área crítica a continuar merecendo atenção especial do parte do governo. De acordo com ele, os recursos destinados nesse sentido foram insuficientes, o que está sendo corrigido com a alocação de uma fatia maior na Lei Orçamentária Anual de 2017, em comparação com o corrente exercício. Ele informou em entrevista que para o próximo ano o montante previsto é da ordem de R$ 365.349.720,00. Já para este ano, o valor foi de R$ 249.026.750,00, uma diferença de R$ 71.322.970,00.
O governador Ricardo Coutinho, que descartou tirar licença em dezembro para descansar, afirmou que a crise exige atenção e que sua preocupação é contar dinheiro e pagar as contas do Estado. Na opinião do governador, “a crise é muito violenta e não tem porta de saída”. E acrescentou: “O que a gente está vendo aí é a falta de medidas corretas por parte do governo federal, capazes de ativar a economia. E 2017 poderá ser um ano muito mais difícil que 2016”. Ele não tenciona ceder nas reivindicações do Estado ao Planalto em termos de corte de gastos. Explica que sua administração já vem colocando em prática uma política de austeridade e fazendo corretamente o dever de casa, não sendo justificável que haja mais penalização por parte de Brasília.
A revista “CartaCapital” publica matéria na edição desta semana informando que com os açudes em colapso a região do semiárido nordestino sofre com a seca prolongada. A matéria cita o município de Sousa, onde a prefeitura cortou despesas com folguedos juninos para fazer economia e bancar a perfuração de 130 poços para a captação de água. “Em lugar de contratar atrações musicais com cachês astronômicos, a prefeitura preferiu convocar trios de forró com músicos locais a preços modestos”, adianta. O texto observa que o açude São Gonçalo, principal fonte de abastecimento de água da cidade, estava praticamente seco. O nível do reservatório voltou a subir este ano e chegou a perto de um terço de sua capacidade. “Ao se considerar o volume dos reservatórios próximos, muitos deles em situação de aridez completa, a realidade dos moradores de Sousa é relativamente confortável, ao menos por enquanto”, acrescenta.
Perissé: migrações – Um dos idealizadores do programa das águas, Fernando Perissé, ex-diretor do Daesa na cidade de Sousa, afirmou à CartaCapital que a carência de água em cidades próximas deve incentivar migrações para regiões que ainda possuem recursos hídricos. “O problema é o efeito dominó: com os açudes da Paraíba em colapso, a rede de poços que criamos passa a interessar a outros moradores da região”, esclareceu ele. O Nordeste está prestes a ingressar em seu sexto ano consecutivo de estiagem e convive com a seca mais prolongada dos últimos cem anos – revela o repórter Miguel Martins, na matéria de CartaCapital.
Conforme atualização de outubro do monitor de Secas da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, todos os Estados nordestinos sofrem atualmente com a chamada seca excepcional, classificação utilizada quando a estiagem resulta em uma situação emergencial, que inclui perdas de cultura e escassez de água em reservatórios, córregos e poços. Pernambuco é o Estado mais afetado – lá, 90% do território apresentam o quadro mais grave de seca. Diversos açudes da região encontram-se em situação crítica. De 107 reservatórios pernambucanos, 67 estão em estado de colapso e operam a menos de 10% de sua capacidade. Na Paraíba, o panorama é semelhante. Dos 126 reservatórios estaduais, apenas 30% têm capacidade armazenada superior a 20% de seu volume total. O impacto da estiagem sobre a produção agropecuária no Nordeste impressionou a Confederação Nacional dos Municípios. Perissé diz que a transposição de águas do rio São Francisco pouco influenciaria na situação atual de desabastecimento.
Por Nonato Guedes