O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é renitente. Sempre que se vê longe dos holofotes, cria um “factóide” para virar notícia, para se manter na crista da onda, para não purgar o ostracismo. Nesse afã da publicidade, andou reunindo intelectuais, juristas e outros “órfãos” ilustres do lulopetismo para viabilizar a criação de um Observatório destinado a catalogar notícias negativas contra ele e companheiros e, na sequência, recorrer a medidas cabíveis – supõe-se que dentro da lei. Aparentemente o ex-presidente tem uma relação de amor e ódio com a mídia. Ora se queixa de ser injustamente criticado, até mesmo criminalizado por veículos de imprensa supostamente a serviço de adversários, ora sente falta das manchetes, sejam a favor ou contra.
No fundo, Lula ainda se julga “o cara”, expressão que teria sido atribuída a ele pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, num encontro que tiveram e no qual o então mandatário brasileiro fez propaganda de si mesmo como um fenômeno político – aquele enredo do operário de macacão, que não cursou universidade e chegou a presidente da República. Esse é o mantra preferido de Lula porque, na cabeça dele, ornamenta seu currículo em alto estilo. Lula está pouco se lixando para o fato de que essa história repetida acaba parecendo apologia da ociosidade em relação aos estudos. Nem sempre cuida de lembrar que não são todos que têm a sua sorte, o seu amuleto mágico, seja lá o que for que conduza seus passos pela jornada que segue.
Como parte da indústria da vitimologia, em que virou “expert”, o ex-presidente Lula protelou o quanto pôde um encontro com juízes da Operação Lava Jato deflagrada a partir de Curitiba e que já pôs meio mundo na cadeia, de políticos do PT a empresários em vias de fechar a delação premiada para virar uma página negra da crônica política recente do País, pontuada pelo incesto entre poder público e poder privado e marcada por atos comprovados de corrupção, de desvio de verbas, que descapitalizaram uma estatal do porte da Petrobras e demoliram nas urnas o Partido dos Trabalhadores, salvo melhor juízo ainda a iniciativa mais bem-sucedida que teria sido idealizada pelo ex-presidente. O que temia Lula no encontro com, por exemplo, o juiz Sérgio Moro? Pois ele acabou havendo e, no final das contas, não acrescentou muita coisa nem tirou pedaço de Lula.
Refeito do susto e das emoções que vinha acumulando? Em relação a Lula nunca se sabe. Ele é um tanto quanto ciclotímico nas decisões que toma, ao sabor das circunstâncias ou dos seus interesses que estejam em jogo. Não se diga que o ex-presidente é bobo, ingênuo, presa fácil de armadilhas. Lula é “o cara” que não sabia do mensalão, que se disse apunhalado pelas costas por companheiros do Partido dos Trabalhadores. Por extensão, não sabia também – ninguém lhe avisou – do petrolão, este um verdadeiro propinoduto que irrigou as mãos e os bolsos de muita gente influente, repentinamente alçada das colunas sociais para as páginas policiais. Odebrecht, OAS, etc, etc, eram sinônimos de poder econômico, de fortalezas inexpugnáveis no segmento da infraestrutura. Acabaram atoladas num mar de lama tão trágico, guardadas as proporções, com a lama da Samarco que indignou a Nação.
Mas, quanto a Lula…É isso! Ele vai levando, vai se safando, como na letra da música Caros Amigos cantada por Chico Buarque de Holanda, que menciona escapismos para se fugir da dura lida nos tempos da ditadura militar. Lula é a encarnação do malandro político. Faz, desfaz, apronta e ainda é incensado como o “coitadinho”, que não sabia de nada. Que é dono de um tríplex no Guarujá e nem sonhou que o imóvel estava em seu nome, doado como presente do Olimpo das empreiteiras. É o cidadão acima de qualquer suspeita, que é proprietário de um sítio em Atibaia, no interior paulista, mas nem desconfiava disso. Fatos assim consolidariam a imagem do Brasil como um país dos absurdos – se a opinião pública não soubesse que tais absurdos carregam nome, sobrenome, detalhes burocráticos de interesse público.
Tenho para mim que a encenação ou pantomima do ex-presidente Lula cansou. O Brasil quer sair dessa a todo custo. Será que custaria muito o ex-presidente Lula oferecer uma quota de sacrifício e colaborar com a verdade, somente com a verdade? Este não é um País de faz-de-conta. E é sobre ilações assim que o ex-presidente deveria meditar, para o seu próprio bem, para o bem da biografia que ele adora emoldurar, numa concessão ao narcisismo.
Por Nonato Guedes