A impressão que o brasileiro tem é de que o governo do presidente Michel Temer está sempre começando. Cada dia é como se fosse o primeiro dia do governo do ex-vice de Dilma Rousseff, que foi entronizado na titularidade do Palácio do Planalto com o impeachment da então mandatária. Os inúmeros problemas colecionados por Temer na gestão são a prova provada de que a administração é pífia. Aliás, foi com esse termo que uma das revistas semanais tratou o início do governo de Itamar Franco, então vice de Fernando Collor, que assumiu com o impeachment deste em 92.
Antes que me alertem, já acrescento: Itamar, “o mercurial”, “o topetudo”, “o homem do pavio curto”, como era denominado na mídia, acabou surpreendendo – e positivamente. Dizia-se, à boca pequena, em tom jocoso, em algumas rodas: “De onde menos se espera, aí é que não vem mesmo”. Pois veio – na gestão de Itamar, igualmente apelidada de república pão de queijo, numa alusão a Minas Gerais, de onde ele procedia. O ex-namorado de Lisle Lucena premiou o País com um plano de estabilização econômica que era tudo de que precisávamos. Claro que isto foi um trabalho de equipe e também é certo que à frente dessa equipe estava o depois presidente Fernando Henrique Cardoso, que era ministro de Itamar.
O Plano Real acabou sendo o passaporte mágico para a vitória de Fernando Henrique na sucessão de Itamar, pelo voto, e, depois, na reeleição, em 98. Mas é preciso lembrar uma coisa: logo quando assumiu, embalado pelo seu estilo “Indiana Jones” dos trópicos, Fernando Collor de Melo anunciou solenemente que só tinha uma bala na agulha – e com ela explodiria a inflação que havia herdado de Sarney, a quem qualificou de “batedor de carteira da História”. Pois bem! Collor convocou uma equipe despreparada, composta por Zélia Cardoso (mais afeita a tangos e boleros), Ibrahim Eris e outras figurinhas pouco expressivas mas que foram apresentadas como excepcionais pelo potencial de inteligência e acuidade. Que inteligência que nada. O que tivemos foi um engodo – e, além disso, o confisco de uma instituição sagrada no país, a caderneta de poupança.
Tudo isso era um contraste inexplicável com o perfil do “caçador de marajás”, lema com que Fernando Collor se apresentou aos incautos e aos não tão incautos assim por volta de 89, quando se deu a primeira eleição presidencial direta no pós-ditadura militar. A sede de revanche e de influir nos destinos do país era tão grande que a maioria do eleitorado desprezou Leonel Brizola, Ulysses Guimarães, Mário Covas, para citar alguns respeitáveis candidatos. A esta altura, constituíam “velharia” na cabeça do eleitor médio brasileiro. Só que a aposta feita foi profundamente traumática: Collor não era, nunca foi, a pessoa indicada para efetuar uma travessia histórica daquela dimensão.
E, ainda por cima, tivemos o mar de lama – o esquema PC Farias operando a todo vapor para achacar figuras dependentes de governo, no sentido de contribuírem para uma caixinha de Fernando, que à certa altura espalhou tentáculos por todo canto. Quem não lembra da famigerada Operação Uruguai, concebida como uma tática engenhosa para burlar a Lei, e não burlou? A resposta veio, inexorável. Caras pintadas foram às ruas pedir o impeachment de Collor, que, apoplético, bradava: ‘não me deixem só’. A Pátria é que estava só e indefesa diante de aves de rapina que sugavam o erário com uma voracidade estonteante – estratégia que foi aprimorada pelos cardeais petistas.
Mas temos Michel Temer agora. E tudo que me ocorre é repetir a perguntinha: quando é mesmo que o governo dele vai começar?
Por Nonato Guedes