Falta mais alguém? A temperatura política em Brasília ficou mais quente com novas denúncias contra o presidente Michel Temer, que teria recebido R$ 10 milhões em dinheiro vivo entregues ao ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, em 2014. É o que consta da delação de 82 páginas de um diretor da Odebrecht e a expectativa nos meios políticos é de que as informações venham turbinar o processo que tramita no Tribunal Superior Eleitoral pleiteando a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer que concorreu às eleições presidenciais em 2014.
A oposição está animada – ela que já tinha protocolado pedidos de impeachment contra Michel Temer na Câmara dos Deputados. Os pedidos, originários de segmentos sociais de esquerda e de expoentes de partidos como Psol, por enquanto estão sendo arquivados pelo presidente Rodrigo Maia, do DEM, que está na base temerista. Mas pode chegar uma hora em que essa pirotecnia não surta mais efeito e a aceitação dos pedidos seja inevitável, com a consequente apreciação e todos os desdobramentos imprevisíveis que episódios assim demandam. Já foi dito que impeachment só se sabe como começa, nunca como termina.
Mas o título da coluna remete a algo mais grave: as prisões consecutivas de antigas “vestais da política brasileira. São tantos os notáveis levados para grades que há quem se pergunte se ainda há cela disponível para acomodar mais gente. De outro lado, circulou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai responder a uma quarta denúncia na Justiça Federal. Ele e o filho Luis Cláudio teriam recebido R$ 13 milhões em propina do lobista Mauro Marcondes, de acordo com o Ministério Público Federal. As acusações que pipocaram nas últimas horas já alcançam tucanos de fina plumagem, como o senador Aécio Neves e o ex-presidenciável Geraldo Alckmin, além do ministro José Serra. Quem tem memória sabe que o mensalão tucano, que eclodiu em Minas Gerais, precedeu o mensalão petista. Os personagens são praticamente os mesmos, de Marcos Valério a Duda Mendonça. E aos políticos, é claro.
PT, PMDB, PP, PSD, PSDB, DEM – juntos e misturados, no mesmo barco da corrupção deslavada, que nos últimos anos se aperfeicou no Brasil, adquirindo foros de profissionalização. Roubar do erário, receber propina – expedientes assim, que em outros tempos fariam corar de vergonha certas pessoas, estão incorporados à realidade brasileira como rotineiros. É estranho que o mensalão tucano não tenha tido tanta celeridade, punição e repercussão quanto o julgamento do mensalão petista, mas, sobre isto, falam melhor Suas Excelências, os ministros do Supremo Tribunal Federal, a Corte que ficou desmoralizada esta semana quando cedeu aos caprichos e bravatas do coronel Renan Calheiros, da política alagoana, intimado a desocupar a presidência do Senado Federal sem que tenha se abalado ou mexido uma pálpebra para cumprir a decisão. Diz-se que o arranjo inventado foi para “salvar a democracia” e evitar uma crise entre os Poderes. Na prática, tivemos a capitulação da Suprema Corte. Renan é o todo-poderoso.
Este é o Brasil velho de guerra, que já foi tantas vezes às ruas pedir moralidade e ética na política e na administração inutilmente. Os poderosos e líderes políticos em posições de status zombam da população. Ainda agora estourou uma denúncia contra o senador Lindbergh Farias, que é natural de João Pessoa mas opera pelo Estado do Rio. O referido cidadão mobilizou multidões de jovens caras pintadas nas ruas em 92 pregando o impeachment de Fernando Collor de Mello. E deu certo. Collor não foi só impedido de exercer a presidência da República – ficou inabilitado politicamente por oito anos. Pois Lindbergh, que ministrava lições de moral e ainda o fez no episódio do impeachment de Dilma, que considerou monstruoso e injustificável, está aí, enrolado no noticiário policial. Que se misturou com as páginas políticas – dado o entrelaçamento muito forte, o incesto que reina entre as duas atividades.
Que estarão dizendo os “Velhos do Restello”, que Dilma mencionou certa vez como profetas do agouro? Estava bem o Brasil com ela? Não estava. Está bem com Temer? Não está. Mas as coisas se dão dessa forma mesmo. O Brasil é um caso indecifrável, estou plenamente convencido.
Por Nonato Guedes