Pelo menos por enquanto o ex-senador Cícero Lucena, ainda filiado ao PSDB, é descartado em quaisquer equações políticas montadas para os próximos pleitos no Estado, mais precisamente as eleições de 2018, que envolverão renovação em governos estaduais, no Senado e na Câmara, além das Assembleias Legislativas. Eleito em confronto com o empresário Ney Suassuna, Cícero Lucena foi prefeito de João Pessoa por duas vezes, a primeira em 1996, a segunda em 2000. Era, então, filiado ao PMDB, mas, devido às vinculações com o grupo Cunha Lima, decidiu acompanhar este na opção pelo PSDB. Ronaldo Cunha Lima, o poeta, de quem Cícero foi vice, liderou a migração do PMDB por desentendimentos com o atual senador José Maranhão.
Cícero era conhecido como empresário da construção civil em João Pessoa e atuava politicamente apenas nos bastidores, contribuindo com campanhas eleitorais de candidatos conhecidos. Na disputa pelo governo em 1990, quando enfrentou Wilson Braga e o ex-deputado federal João Agripino Neto, Ronaldo Cunha Lima surpreendeu aos analistas políticos indicando o nome de Cícero para seu companheiro de chapa. No segundo turno, naquela eleição, Ronaldo derrotou Braga e teve o apoio de João Neto. Cícero mostrou-se um vice-governador atuante e operoso. Tocou a administração quando Ronaldo ficou emocionalmente abalado após incidente no restaurante Gulliver, quando atirou contra o ex-governador Tarcísio Burity.
Em 94, com a renúncia de Ronaldo para disputar uma vaga ao Senado, Cícero completou o mandato, permanecendo dez meses no comando do Executivo e imprimindo seu próprio estilo. Ronaldo e Cícero foram importantes na articulação para reabertura do Paraiban, banco estatal de fomento, cuja extra-liquidação judicial havia sido decretada pelo governo de Fernando Collor de Melo na gestão de Tarcísio Burity. Cícero ocupou a Secretaria de Políticas Nacionais, com status aparente de ministério, já que, na prática, era subordinada ao ministério do Planejamento, chefiado por José Serra. Isto aconteceu durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e Lucena defendeu a causa da transposição das águas do rio São Francisco, que ainda hoje permanece em evidência.
A mulher de Cícero, Lauremília, foi vice-governadora na gestão inicial de Cássio Cunha Lima iniciada em 2003, com atuação marcante em bairros da periferia da Capital. No segundo governo de Cássio, Cícero ocupou a secretaria de Planejamento, mas teve que renunciar ao posto em virtude da sua detenção no caso da Operação Confraria, por parte da Polícia Federal. A Operação apurara um esquema de desvio de recursos públicos na prefeitura da Capital nas gestões de Lucena, mas, como senador, ele conseguiu remover as acusações que lhe foram imputadas. Em 2012, Cícero concorreu a prefeito de João Pessoa pelo PSDB e chegou a ir para o segundo turno contra Luciano Cartaxo, então PT, que vitoriou. Retomou o mandato no Senado, concluído em janeiro de 2015. Tem estado fora do noticiário político e de decisões ligadas à sobrevivência do PSDB. “Mas ele pode ressurgir das cinzas”, especula um interlocutor próximo de Lucena.
Por Nonato Guedes