Na contramão da voz rouca das ruas, a maioria dos integrantes da Câmara Municipal de Campina Grande aprovou um reajuste de 2,3%. Feito isso, sumiram, escafederam-se, para não ter que dar satisfações ou explicações à sociedade através da imprensa, já mobilizada para tentar entender o que leva representantes do povo a legislarem de costas para o povo, desafiando o clima generalizado que é hostil a parlamentares em virtude de episódios ocorridos no Congresso Nacional, em Brasília.
Além do caráter confessadamente corporativista da decisão, os vereadores que “decretaram” o reajuste ignoraram a extensão da gravidade da conjuntura nacional, pontuada por cortes de despesas em todas as esferas a fim de se obter um equilíbrio que desandou nos últimos anos. Bom senso teve o prefeito reeleito Romero Rodrigues, que beneficiado com o reajuste em seus vencimentos, antecipou que iria vetar a “prebenda” a ele outorgada. Rodrigues alertou para a gravidade da atitude dos representantes do povo. Aliás, a decisão de abrir mão do reajuste do próprio salário foi antecipada por Romero numa entrevista coletiva após o pronunciamento das urnas em que ele recebeu mais um crédito de confiança do povo para continuar administrando Campina Grande.
Há quem se articule, desde agora, para acionar a Justiça contra a implantação do reajuste nos vencimentos dos vereadores campinenses. A engenhosidade dos mentores do acinte ostensivo ao eleitorado foi tamanha que os vereadores enxertaram um penduricalho – o pagamento do décimo-terceiro salário para eles mesmos. Foram de uma ignorância lapidar, desconhecendo que o décimo-terceiro salário não é previsto, em lei, como benefício a detentores de cargos eletivos. Confrontado com atitudes desse jaez, o cidadão comum toma-se de indignação plena, de revolta, porque, na verdade, o procedimento adotado é de um descaramento à toda prova. Faz relembrar a frase do ex-presidente Jânio da Silva Quadros de que o Brasil é um País onde ninguém renuncia a nada, a nenhuma vantagem ou mordomia. Jânio usou a referência como analogia para mostrar-se diferente por ter renunciado à suprema magistratura da Nação. O ato foi uma traição aos milhões de votos que Quadros obtivera, mas ele estava certo do ponto de vista do caráter de políticos brasileiros de quererem levar vantagem em tudo – uma reedição da Lei de Gérson, que o próprio Gérson renegou.
É lamentável que ainda prosperem práticas condenáveis dessa natureza, porque o Brasil está precisando urgentemente tomar um porre de moralidade, de princípios éticos. A esbórnia com o dinheiro público, que veio à tona de forma inequívoca no escândalo do petrolão, é algo que põe o Brasil no ranking dos países mais corruptos do mundo – e este é um desideratum que os brasileiros honestos não almejam. O que aconteceu em Campina Grande retrata um pouco a realidade nacional a partir de Brasília, onde homens e mulheres com boas posições no poder efemero usam e abusam dos recursos públicos, desta forma usando e abusando, também, da paciência popular. Que ninguém se espante com rebordosas…
Por Nonato Guedes