A revista CartaCapital, que é engajada com o lulopetismo e com a ex-presidente Dilma Rousseff, enxota por antecipação o ano de 2016 em matéria de análise da conjuntura por identificá-lo como um ano que não foi fácil. “Seja pela política e economia, seja pelas tragédias e violências, agora parece que só os astros podem dar uma forcinha”, preconiza Ingrid Matuoka em reportagem na edição recente da publicação de Mino Carta, intitulada “Só a bruxaria salva”, acrescentada da observação de que cristais, tarô e aconselhamento espiritual são imprescindíveis para que se possa lidar com os sortilégios malignos da conjuntura. O texto insinua a influência de elementos sobrenaturais mas se contradiz ao mencionar fatos negativos concretos, como os milhões de trabalhadores desempregados. Na prática, é preciso que se diga, esse contingente perdeu postos de trabalho porque a roubalheira política tomou conta do erário, disseminou-se como erva daninha em todos os segmentos da sociedade e da máquina pública.
O que é a leitura de cada um. Enquanto CartaCapital atribui a corrupção a uma trama de bruxaria, na revista Época o articulista Walcyr Carrasco, que é autor de novelas de grande sucesso na Globo, exatamente porque lidam com os contrastes da sociedade brasileira, acentua que chegamos ao fim do ano com os políticos como candidatos a perus de Natal. “São eles os assados nas conversas. Nos ânimos. Políticos estão sendo presos. E se descobrem coisas, sim, dignas de Maria Antonieta, como a ex-primeira-dama que botava colar e brinco no valor de R$ 1 milhão. A voz surda das ruas clama: ninguém quer políticos, embora alguém deva tomar conta de tudo isto aqui”. Carrasco nota que, assim como os perus, a safra de políticos se renova sempre. E todos fazem glu-glu. Essa questão tem um lado só. “Comemoramos este Natal com um peru na mesa e vários políticos no xilindró. Algo mudou. Falta aos políticos perceber”, resume Walcyr, com uma lógica irretocável.
Eis o ponto: o país ficou irrespirável em 2016 porque foram muitos os escândalos políticos, resultando em prisões em série que abarrotaram celas em Curitiba, Brasília, São Paulo, no país todo. Mas a dwescoberta dos escândalos e as prisões não terão sinalizado, pelo menos, um avanço dentro de uma sociedade acostumada a privilégios, a não renunciar a nada, como dizia Nelson Rodrigues, o adorável Anjo Pornográfico? Ministros, senadores, deputados, “otoridades” em geral, ninguém escapou da malha fina da Lava Jato, acionada por uma República de jovens Procuradores que chegaram a ser acusados de terem feito investigações midiáticas, para obter a evidência dos holofotes, quando na verdade mergulharam fundo, no fundo do poço da corrupção. Uma certa parte da intelecualidade brasileira, aquela acostumada a ser subvencionada pelas leis Rouanet da vida, deblaterou contra o impeachment de Dilma Rousseff sustentando que era golpe. Um besteirol alimentado pela fantasia de Dilma de que foi vítima de misoginia – pelo fato de ser mulher.
Ora, o primeiro impeachment ocorrido na história política brasileira atingiu exatamente um homem, que está aí, vivíssimo da Silva – o senador por Alagoas Fernando Collor de Melo. Na época, os defensores de Collor sustentavam que ele estava sendo cassado por ostentar um Fiat Elba, adquirido de forma ilegal. Mera bazófia. Collor caiu porque consentiu em fechar os olhos aos escândalos comandados de dentro do governo pelo ex-tesoureiro de campanha, PC Farias. Houve, aí, uma relação incestuosa entre o dinheiro público e o dinheiro privado. Da mesma forma, chega a ser folclórico insistir em que Dilma caiu por ter tomado o partido dos pobres e ficado contra a Casa-Grande, do romance de Gilberto Freyre. Ora, formalmente, Dilma foi pilhada na prática de pedaladas fiscais e de outras irregularidades de monta. De verdade, mesmo, caiu pelo conjunto da obra – pela sucessão dos casos de corrupção, que superaram em muito os do governo Collor.
Se o Brasil é o país onde, em se plantando, tudo dá, também é o país onde, se apurando, tudo se descobre. Foi o que aconteceu neste ano de 2016. “Nem um autor como eu poderia imaginar todas as tramoias políticas destes últimos meses”, obtempera Walcyr Carrasco, já dando vazão à sua fértil imaginação criadora de novelista. Não foi um ano fácil o de 2016 também por causa das perdas que tivemos, a exemplo da morte do ator Domingos Montagner, nas águas do rio São Francisco, no epílogo das gravações de “O Velho Chico”, em que ele tinha atuado de forma magistral como protagonista. O país chorou com a tragédia. De igual modo, como lembrou a cantora Alcione, a tragédia aérea com o time da Chapecoense foi “uma porrada e tanto”. É Alcione, acamada, quem diz: “Espero que em 2017 o país se endireite e que a gente tenha menos tristezas”.
Minha querida “Marrom”, pior do que esteve não é possível que o Brasil fique. E que venham as bruxarias, os cristais, tarô, aconselhamento espiritual, espantando o karma de uma população que opera no Congresso Nacional em Brasília. As pedras dos chakras ajudam-nos a meditar. Mas uma boa punição dentro da Lei faz um efeito danado para frear a velocidade da corrupção. Não é, presidente Luiz Inácio Lula da Silva? Que venha, então, 2017!
Por Nonato Guedes