Vai se cristalizando o consenso de que 2017 é o ano para que a Operação Lava-Jato acelere seu ritmo de investigações e obtenha avanços substanciais na produção de resultados irrefutáveis. O argumento é simples: o País precisa retomar o mínimo de normalidade – e ninguém ignora que cada investida da Lava-Jato provoca um sobressalto, diante de revelações que podem vir à tona e que podem comprometer outras Excelências ainda não indiciadas formalmente, inclusive, expoentes da república de Michel Temer. Não há ilusão de que a ficha suja fique restrita a cabeças coroadas do PT. Não só o governo Temer, mas PMDB, PSDB e partidos satélites estão na imensa geleia geral que devastou o Brasil nos últimos anos – dos cofres públicos à ética.
Por outro lado, o governo de Michel Temer precisa equacionar com urgência um vasto contencioso que – convenhamos – não é fácil de administrar. O grande gargalo, teoricamente, é a reforma da Previdência. O presidente mexeu num vespeiro por inabilidade ao fazer prognósticos aleatórios e até desinformados sobre o modelo ideal de aposentadoria que precisa ser consensuado dentro do próprio Congresso Nacional e junto à sociedade a fim de que o rombo previdenciário seja equacionado e que o País seja dotado de uma legislação trabalhista moderna. Este é um dos impasses nos quais, curiosamente, os políticos esbarram, e os governos também. A razão é curial: mexer com direitos adquiridos não é fácil.
Não é (apenas) que o sentimento corporativista seja latente em segmentos esclarecidos e influentes da sociedade. É que no bojo das reformas que estão sendo tramadas vão ser levadas de roldão algumas conquistas árduamente extraídas por contingentes sociais em anos de mobilização. Não é justo, não é correto, olvidar esses direitos, enquanto nada se faz em relação a privilégios de ministros, desembargadores, de outras figuras notáveis. A massa dos trabalhadores, como sempre, paga o pato. Já que não há ilusão de que o governo Temer deixe alguma marca para ficar na lembrança desse período de interinidade após o trauma do impeachment (todo impeachment é traumático) de Dilma Rousseff, que o governo se concentre numa questão só – e que essa questão seja a reforma previdenciária. Estamos atrasados há séculos nesse segmento.
No que diz respeito à Operação Lava-Jato, se por um lado tem um aspecto profilático extremamente positivo – já que evoluiu, inclusive, para assegurar em lei a repatriação de ativos financeiros desviados para o exterior – em termos econômicos há uma atmosfera de instabilidade para a grande maioria da sociedade brasileira. Daí o apelo que já começa a ser disseminado para que a Lava-Jato acelere seu ritmo. O Brasil, afinal, precisa voltar a entrar nos eixos, cozinhar-se nas próprias banhas com a série de demandas paralelas. 2017, sinceramente, é uma incógnita. Mas pode ser uma agradabilíssima surpresa para o Brasil. A sociedade merece!
Nonato Guedes