2017 começou com um “outro” Cartaxo na prefeitura de João Pessoa. Não, claro que Lucélio, o irmão gêmeo do prefeito reeleito Luciano, não está no lugar deste no Centro Administrativo Municipal. O gestor continua sendo o Luciano eleito originalmente em 2012, mas há mudanças. Começa que ele não está mais filiado ao PT – isso já faz algum tempo mas é sempre bom lembrar, embora, pessoalmente, Luciano não queira nem saber do PT. Aboletado no PSD, que é dirigido por Rômulo Gouveia, que tem ligações com Cássio Cunha Lima, Luciano Cartaxo deu uma guinada espetacular em pouco tempo. Os adversários dizem que é uma guinada cosmética. Não é bem assim. Ela é mais profunda do que supõem os adversários do alcaide.
No segundo mandato de Luciano, o vice-prefeito de João Pessoa já não é mais o jornalista Nonato Bandeira, que se bandeou de volta ao aprisco (leia-se: esquema do governador Ricardo Coutinho, em cujo ventre foi gerado). Na vice-prefeitura está um médico por formação, até ontem deputado federal, filiado ao PMDB: Manoel Júnior. Ele lutou o quanto pôde para acumular a vice-prefeitura com a deputação federal. Não encontrou brecha jurídica que o favorecesse. Resignado, renunciou à deputação para ficar na vice-prefeitura, dizem que com a expectativa de assumir a titularidade em 2018, quando Luciano renunciar para disputar o governo. Se renunciar…
Júnior manejou nos bastidores, também, para ser cumulativamente vice-prefeito e secretário de Saúde da Capital, o que lhe daria mais visibilidade e teoricamente carrearia investimentos federais, em face do trânsito que construiu enquanto integrante da Câmara que até pouco tempo foi presidida por um detento, o ex-deputado cassado Eduardo Cunha, do PMDB do Rio de Janeiro. Mas deixemos Júnior tricotando o que fazer no papel de vice-prefeito – além da expectativa de substituir Cartaxo em caso de viagem ou afastamento mais prolongado. Voltando a Cartaxo: ele saiu da tutela do PT, que, convenhamos, era um “saco”, principalmente aqui na Paraíba, livrou-se do domínio de José Maranhão após ter acomodado o PMDB na vice e em secretarias, e embora esteja no PSD de Rômulo, tem cacife de general na agremiação. Até porque, teoricamente, é um nome forte para concorrer ao governo do Estado depois de ter sido reeleito em primeiro turno e de ter atraído líderes como José Maranhão e Cássio Cunha Lima para apoiá-lo na segunda jornada, compensando a cara de paisagem que o governador Ricardo Coutinho fez em relação à sua primeira administração.
Cartaxo é diferente, também, no método de fazer política. Depois de aprender o pragmatismo político, aliando-se a PSDB e PMDB e largando o PT, ele adora praticar o maquiavelismo político, refletido na arte de administrar com suposta sapiência. De uma canetada só, pontuou o início do segundo mandato com uma série de exonerações de ocupantes de cargos comissionados ou de confiança. Na verdade, dispensou o exército que foi às ruas segurar bandeirinhas pedindo votos para mais um mandato dele, mais um crédito de confiança. É preciso oxigenar a máquina, fazer reposição de quadros. “O que está dando certo, não se muda”, é o mantra favorito do neotucano Luciano Cartaxo. Ele está nas nuvens, porque tudo dá certo, tudo conspira a seu favor. Convém rezar muito para que a estrela continue luminosa, para que não venha desbotar ao sabor do primeiro grande confronto, do primeiro grande desafio.
Uma verdade que precisa ser dita é que até agora Luciano Cartaxo não enfrentou o seu grande dilema como político e administrador. Malicioso, de poucas palavras e sem preocupação com conteúdo, vai comendo pelas beiradas, ofertando o feijão com arroz disfarçado do marketing de grandiosidade administrativa. Com as contas equilibradas, passa a imagem de um gestor disciplinado, eficiente. Não chega a ser santificado, mas é meio ‘teflon’ – até agora, pelo menos, nada de ruim colou na sua imagem. Apesar de denúncias vocalizadas por adversários, que volta e meia remexem o baú da prefeitura da Capital. Tudo bem, então? Em tese, tudo bem, tudo certo, tudo tranquilo. Luciano Cartaxo ingressa no segundo mandato em céu de brigadeiro. E se houver algum acidente de percurso? – indaga o pessimista. Não está nos planos, mas, se tiver que haver, chama o outro Cartaxo – o Lucélio. A troca fica em casa mesmo.
Nonato Guedes