Foco, hoje, de uma verdadeira “caça” por parte dos que não simpatizam ou nunca simpatizaram com a estrela vermelha que ainda baliza seu símbolo, mesmo que desbotada, o Partido dos Trabalhadores paga o ônus de ter cometido um estelionato político e estelionatos eleitorais em campanhas que sustentou desde a década de 80 quando foi fundado no Colégio Sion em São Paulo por um grupo de idealistas e crentes na mudança. Nas redes sociais, de forma ostensiva, há grupos de opinião articulados que pedem a extinção pura e simples do PT sob o argumento de que ele se caracterizou como um partido corrupto, não fazendo jus, portanto, a eventuais concessões por parte da Lei.
O PT purga o erro de ter buscado se apresentar como diferente dos demais partidos, a quem chamava de tradicionais, ou elitistas, ou oligárquicos, numa referência ao PMDB, ao DEM, que é sucedâneo do PFL e ao PSDB, que nasceu de uma costela peemedebista dissidente. A metamorfose experimentada pelo PT e evidenciada nos escândalos em que líderes de proa do partido foram pilhados foi um choque para setores da sociedade brasileira que ainda apostavam na “diferença”, numa hipotética “terceira via”. E uma frustração para os ingênuos (ainda os há) que caíram no conto do purismo político, na ilusão de que o PT era a antítese a “tudo isso que está aí”, ou seja, a práticas condenáveis como o fisiologismo, o toma lá-dá cá, o caixa dois, sem falar em outros penduricalhos ou acessórios como a demagogia, a falsa promesssa.
Dá para constatar, hoje – não mais supor – que havia muito de esperteza, de malandragem, encobertando a falácia palavrosa de expoentes petistas que vendiam o partido como um produto químicamente novo, puro, casto, cheio de virtudes, escoimado dos vícios que saltavam aos olhos na práxis dos outros partidos já consolidados no cenário brasileiro. Quando adversários do PT na disputa presidencial tentaram colar na legenda de Lula a imagem do “medo” por ser desconhecido, os petistas e outros não-petistas responderam com a sensação de “esperança”. Claro, todos sabiam que era uma incógnita a experiência de um partido com as características do PT no exercício do poder. Uma incógnita, mas não uma aventura – e vai uma distância enorme entre esses dois estágios a que aludimos.
Deu-se, então, o crédito de confiança ao “novo”, à “terceira via”, ao “anti-tudo de errado que aí está”. E a consequência foi que o partido, uma vez no poder, ganhando eleições presidenciais, governos estaduais, passou por uma metamorfose, por uma guinada de 360 graus em relação aos valores que professava, aos princípios que jurava cultivar. Vieram, então, os “recursos não contabilizados”, sinônimo descarado do velho caixa dois, as “maracutaias” em empresas e órgãos públicos, a república do “mensalão”, com líderes da renovação posando de “mensaleiros”, de donatários de valiosas quantias em dinheiro guardadas nas cuecas, nas partes “pudendas” dos filiados illustres, das Excelências petistas. Que vexame internacional! Quanto primarismo político por trás do antigo roubo, da rapinagem, do saque dos cofres públicos.
E veio o impeachment da primeira mulher eleita presidente da República pela sigla do PT, a vetusta Sra. Dilma Rousseff, até então conhecida como resistente à ditadura militar, à longa noite das trevas, convertida de uma hora para outra em “poste” a ser trabalhado e inaugurado pelo ex-presidente Lula, o “mago”, o “feiticeiro” dos votos. O PT, que fora às ruas pedir o impeachment de Fernando Collor de Melo em 1992, teve que encarar o coro das ruas pelo “impeachment de Dilma”, pelo “Fora PT!”. E Dilma foi “impichada” e o PT ficou fora do poder que havia conquistado pela segunda vez nas urnas. “Caçado” nas ruas, onde ecoam os protestos, os xingamentos contra mensaleiros, o PT corre o risco de ter cassado o seu registro como partido político. Dizem que é uma possibilidade prevista em Lei. A esta altura, tanto faz como tanto fez. Cassar o registro do PT é o de menos, quando se constata que há mensaleiros presos, que há líderes na iminência de irem para a cadeia e que o PT perdeu o povo. Nas ruas. Nas eleições de 2016. Perder o povo é a grande desgraça da qual o PT dificilmente se recupera. Este é o grande fato a ser constatado, debatido, exaurido.
Nonato Guedes