Por mais que a gente se empenhe em dar um crédito de confiança ao governo do presidente Michel Temer, ele próprio não colabora para que as expectativas sejam otimistas. Tome-se o exemplo, agora, da chacina que ocorreu num presídio em Manaus. A pedra havia sido cantada com antecedência, o governo federal suspeitava que alguma coisa ruim iria acontecer – e não age. Até que explode a tragédia, que ganha repercussão internacional com protestos de entidades sobre violações de direitos humanos.
E o que fazia o presidente Michel Temer nesse momento tão grave da história do seu governo? Não fazia, eis o problema. O homem que sucedeu a Dilma Rousseff no Palácio do Planalto demorou demais para se pronunciar a respeito, e quando o fez, incorreu em deslize que a mídia não perdoa. Depois de qualificar de “pavoroso acidente” uma tragédia anunciada, Temer botou a culpa em empresas terceirizadas para a administração de presídios. Com isso, tirou o governo federal da reta, eximindo-se de qualquer responsabilidade no contencioso que chocou o país, chocou o mundo.
O substituto de Dilma na presidência da República é um homem público talhado para o varejo, eis o problema. Ele não tem cacife para se posicionar como estadista em momentos críticos quando se revela em toda a extensão a personalidade de figuras ungidas para esse papel. Há quem diga, com todas as letras, que Temer é um presidente medíocre, pilotando um governo igualmente medíocre. Não chego a tanto, embora não discorde substancialmente da assertiva. Tenho muito nítida a impressão de que a tragédia de Manaus reproduz a falência do sistema penitenciário do país e que o equacionamento desse cenário passa por uma conjugação de esforços com governos estaduais, municipais e com outros segmentos da opinião pública.
Se não aderiu enfáticamente à figura de avestruz, que enterra a cabeça na areia para não avistar a tempestade, Michel Temer também não foi um presidente à altura da gravidade dos fatos. Ulysses Guimarães, em seu decálogo do estadista, define que o estadista há de ter coragem. E mais: que o estadista tem que ter a premonição de ir à frente, tomando as iniciativas, especialmente em ocasiões de calamidade como essa que se apresentou. Um ou outro poderá alegar que já tivemos massacres em Carandiru, Candelária, Bangu e aqui mesmo em João Pessoa. Não é justificativa para o quadro “pavoroso”, dilgamos, que está aí. Pelo contrário, rebeliões e enfrentamentos nesses presídios deveriam ter servido de alerta para a adoção de medidas mais eficazes a partir da prevenção.
Tem sido triste para o Brasil testemunhar a repercussão internacional negativa de episódios que se verificam dentro do nosso território. Pior ainda, a meu ver, é a falta de ação de um presidente que não se preparou mínimamente para administrar a Pátria mãe gentil. Mas o estadista não se improvisa – e é querer demais o fato de se desejar que Michel Temer corresponda ao momento histórico gravíssimo.
Nonato Guedes