Cessou – não se sabe se temporariamente ou não – o barulho midiático que consistia em potencializar o nome do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB) como alternativa para a eleição presidencial de 2018. O governador, embora sem confessar, não ficou infenso ao movimento, ainda que não o estimulasse ostensivamente. Se há algo que Ricardo não cultiva é o sentimento de inferioridade. A circunstância de ser nordestino e paraibano não o inibiria a cogitar uma disputa ao mais alto cargo da hierarquia de poder no país. Logo, a questão da candidatura está vinculada a outros fatores – um deles a massificação nacional do nome de Ricardo, que não existe.
Embora, em certa medida, pareça “ilhado” depois que Dilma Rousseff foi apeada do poder, o governador paraibano tem tido, sim, aporte de recursos federais no governo de Michel Temer. Talvez não nas proporções que considere que a Paraíba é merecedora, até por estar fazendo religiosamente o dever de casa, mas, de qualquer forma, em condições razoáveis. Aliados o governador tem na bancada federal, embora não tenha contribuído para elegê-los. Um exemplo concreto é o do senador Raimundo Lira, do PMDB, que intermediou a primeira audiência oficial de Ricardo com o presidente Michel Temer, quando este se achava formalmente investido no cargo, com a deposição da ex-presidente petista via impeachment supervisionado pelo Supremo Tribunal Federal e decidido na instância congressual.
É preciso lembrar que Ricardo apostou fichas numa figura política de expressão no Nordeste e que vinha ganhando espaços em São Paulo e, daí, em outros centros importantes do Brasil – o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, então presidente nacional do Partido Socialista ao qual RC é filiado. Eduardo era a esperança para a “terceira via” ao Palácio do Planalto e se preparou em grande estilo para o desafio, ainda em 2014, mas foi inapelavelmente atropelado pelo destino. Morreu vítima de acidente aéreo quando deixou o Rio rumo a São Paulo após haver concedido entrevista ao Jornal Nacional, que projetou sua imagem numa fase inicial.
Com a morte de Campos, a ex-senadora Marina Silva tentou herdar o espólio que ele começara a construir e adicioná-lo à própria herança que possuía junto a parcelas do eleitorado que cortejara na disputa presidencial de 2010. Marina já não era a mesma, ou, talvez, a parcela do eleitorado que apostara nela fartou-se da sua pregação e, por via de consequência, do seu projeto de candidatura. Ainda é mencionada entre alternativas para disputa presidencial e pode largar com o chamado “recall” que é expressão da lembrança de suas incursões recentes como candidata. Mas dificilmente irá além disso.
Ricardo não lidera nenhum bloco político renovador no Nordeste e parece órfão de comando ou de liderança para se projetar no cenário nacional. Tinha todas as credenciais para se firmar a partir do Nordeste. Foi daqui que Fernando Collor de Melo saiu em 89 para destronar condestáveis da política nas urnas com,o Ulysses Guimarães, Aureliano Chaves e outros. É lamentável que o ex-caçador de marajás tenha ido com muita sede ao pote e desencantado não só o eleitorado que votou nele mas a sociedade brasileira como um todo, a tal ponto que protagonizou o primeiro caso de impeachment na história política brasileira. Nunca mais se falou em Collor para presidente – ele ainda é senador por Alagoas, e só.
Quanto a Ricardo Coutinho, poderia ser uma grata surpresa no cenário nacional se fosse mais humilde, mais habilidoso, mais articulado. Fora daí, terá que optar por concorrer ao Senado, à deputação federal. Ou desistir da política. É um mistério o seu futuro.
Nonato Guedes