Nenhuma hipótese deve ser descartada nas análises sobre a morte do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, relator da Operação Lava-Jato, em acidente aéreo verificado ontem em Paraty (RJ). Além de íntegro e inatacável, Teori estava no papel de homem-chave da Operação, na qualidade de relator. Preparava-se para proferir votos decisivos envolvendo a sorte de pessoas que já tiveram influência neste País numa época em que a impunidade era a sacrossanta palavra de ordem e a imunidade era acionada como álibi para proteger figurões de sanções.
Somente para citar um caso aleatório, a título de complemento desse raciocínio sobre a importância do instituto da imunidade: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lutou com obstinação para se tornar chefe da Casa Civil da então presidente Dilma Rousseff, depois de ter sido presidente por duas vezes. Lula não carecia de emprego – de mais a mais, poderia sair candidato novamente a presidente e surpreender os opositores elegendo-se em alto estilo. Mas a Casa Civil era um atalho, naquele momento, para algo mais urgente: a proteção da individualidade do ex-presidente, com a garantia de que ele não seria chamado a depor na Lava-Jato, muito menos oferecer esclarecimentos indispensáveis para a elucidação de fatos. O plano de Lula, que tinha a cumplicidade de Dilma, foi abortado justamente pelo Supremo Tribunal Federal, que levantou óbices à investidura em cargo público relevante de alguém que aparece como réu em sucessivos processos judiciais.
O que isto prova? Aparentemente, não prova absolutamente nada – e é verdade. O que se quer alertar é que há muito mais coisas entre planetas solares do que supõe a nossa vã e ingênua filosofia. De outra forma, como interpretar as bravatas recorrentes do ex-presidente Lula, insinuando que a “jararaca” vai voltar. A quem a “jararaca” mete medo? E qual a razão que justificaria o fato de Lula, “a jararaca”, intimidar autoridades que cumprem regularmente seu trabalho dentro das normas, assegurando o direito ao contraditório, como rezam as lições elementares do regime democrático. Não é normal a orquestração para tentar desmoralizar a Lava-Jato e beira as raias da insensatez o comportamento agressivo, até pernóstico, do ex-presidente da República, pilhado em gravações telefônicas disparando palavrões contra ministros e expoentes do Judiciário brasileiro.
O ministro Teori Zavascki sabia de muita coisa, ou talvez soubesse de tudo, quer dizer, possuísse elementos que lhe permitissem uma antevisão de fatos que iriam se suceder nos desdobramentos da Operação Lava-Jato. Daí ser pertinente a indagação sobre os rumos que a Operação tomará. Tal como o acidente com a aeronave que matou Zavascki – o aparelho não tinha caixa-preta – a caixa-preta da Operação Lava-Jato possivelmente estivesse com o ministro que morreu. Mas isto não apaga evidências e provas documentais recolhidas em intensos meses de investigações – e cujas cópias estão distribuídas por gabinetes blindados à prova de queima de arquivos. Sim, pode acontecer tudo – inclusive nada. Mas pode acontecer a reviravolta: a Lava-Jato ser concluída em alto estilo, pondo na cadeia quem comandou, à distância, até agora, os tentáculos de uma organização criminosa sem precedentes montada à sombra do poder no Brasil.
Nonato Guedes