Em tese, há um clima de consenso para as eleições das Mesas da Câmara e do Senado quanto às possibilidades de vitória. Na Câmara, Rodrigo Maia, do DEM, assume a pose de quem foi ungido por antecipação. Enfrentou como parada dura até agora apenas uma ação judicial sustando a sua candidatura à reeleição, que é realmente controversa tendo em vista que o parlamentar pelo Estado do Rio assumiu um mandato-tampão, em circunstâncias excepcionais. Do ponto de vista das chances de vitória, não há dúvidas de que Maia larga como favorito, já tendo provocado a desistência de um concorrente, pelo menos no que tange a fazer campanha, já que o registro da postulação foi mantido.
No Senado, até prova em contrário, o senador Eunício Oliveira, do PMDB do Ceará, se mantém como candidato único à sucessão de Renan Calheiros. A disputa que se insinua é na periferia do maior cargo – ou seja, em cargos intermediários da Mesa ou de liderança em plenário. O próprio Partido dos Trabalhadores admitiu compor-se com a candidatura peemedebista, arquivando momentaneamente o discurso do “governo golpista” com que foi ‘distinguido’ o presidente Michel Temer ao assumir no vácuo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Um fato curioso, que tem repercutido na mídia, é a avidez do PT por outros cargos na Mesa.
O Partido dos Trabalhadores está com fome de poder – é o que se deduz da postura tolerante nas composições para as Mesas do Senado e da Câmara Federal. Com o impeachment de Dilma, o PT ficou sem perspectiva de poder a oferecer, tendo que se contentar com uma miragem – a possível candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018. A citação de “miragem” leva em conta o fato de que o ex-presidente Lula, em 2018, pode estar com complicações legais impeditivas de uma disputa ao Planalto pelo voto popular. Ainda que esses óbices sejam removidos, restará a batalha pelo voto contra outros candidatos que forem lançados, contando, inclusive, com benesses da máquina oficial. Até prova em contrário, o PT está defenestrado do poder em diferentes instâncias.
A rigor, não há propostas inovadoras de impacto por parte dos que postulam cargos de direção no Senado e na Câmara. Nesta última, o atual presidente Rodrigo Maia, por exemplo, diz sim ao enquadramento de juízes e integrantes do MPF na chamada lei do abuso de autoridade. Trata-se, na prática, de uma manobra que tem o respaldo do Palácio do Planalto, ainda que não ostensivamente, com vistas a esvaziar a operação Lava-Jato, que, ao contrário do que pessoas desinformadas supõem, não alcança exclusivamente políticos ou líderes do PT, tendo ampliado seus tentáculos para o interior de outras agremiações como o próprio PMDB, o PSDB e o PP. A tendência em Brasília é de que a Lava Jato se transforme em 2017 num polvo capaz de abraçar políticos em grande escala – o que, naturalmente, impõe cautelas ou medidas protetivas por parte dos parlamentares, dentro do tradicional espírito corporativista tão conhecido dos brasileiros.
As eleições para a presidência da Câmara e para a presidência do Senado, forçoso é reconhecer, não provocarão grandes mudanças no horizonte político-institucional brasileiro. A chamada depuração de quadros políticos, que é tão reivindicada pela sociedade, deverá ficar mesmo para a campanha a céu aberto em 2018. O eleitorado terá, aí, a grande chance de externar seu protesto, sobretudo na manifestação quanto à reeleição de deputados e senadores. Na eleição das Mesas, prevalece o interesse paroquial, que pode originar as mais esdrúxulas composições, por exemplo, entre o DEM e o PT, como está se prenunciando.
Nonato Guedes