Mesmo sem exercer mandato político, estando, porém, à frente do PSC no âmbito estadual, o ex-senador Marcondes Gadelha mantém o espírito de lucidez na análise dos fatos políticos do Brasil que possuem o efeito da chamada “repercussão geral” nos Estados e nos municípios. Na entrevista hoje pela manhã a Lenilson Guedes e Ytalo Kubitscheck, na RPN, Marcondes avaliou cenários para a disputa presidencial de 2018 – e não incluiu o presidente Michel Temer com potencialidade, o que confere com a suspeita de que o atual mandatário não irá disputar o que no seu caso seria a reeleição por já estar ocupando a cadeira no Planalto desde o impeachment de Dilma Rousseff.
Marcondes ponderou que, a dados de hoje, é indiscutível ser o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva favorito no páreo presidencial. Mas considera a candidatura de Lula uma vaga aposta, diante de complicações que poderão surgir daqui para a frente, inviabilizando o registro legal de uma postulação de Lula. Nesse contexto, a seu ver, ficaria evidenciada a figura do ex-presidenciável e ex-ministro Ciro Gomes, que tenta ocupar espaços na mídia nacional, opinando diariamente sobre todos os assuntos possíveis e imagináveis. O problema, como Marcondes deu a entender, é que o ex-governador do Ceará, uma das estrelas do PDT, não tem grau de confiabilidade seguro entre parcelas influentes do eleitorado.
Gadelha quis aludir à instabilidade emocional que caracteriza o temperamento de Ciro Gomes, capaz de atacar gregos e troianos indiscriminadamente sem fazer uma reflexão melhor que possa, pelo menos, fundamentar as diatribes que assaca. Estaria Ciro, assim, mais para Itamar Franco do que para outros políticos de destaque. Itamar foi denominado pela mídia como “mercurial”, pelo seu humor ciclotímico e pelas decisões nem sempre coerentes. Ele assumiu a presidência da República por ser vice de Fernando Collor, quando se consumou o impeachment deste em 1992 no bojo de denúncias de corrupção enfeixadas na ação do ex-tesoureiro de campanha PC Farias. Do ponto de vista administrativo, Itamar, que parecia condenado a fazer um governo pífio (isso foi dito na mídia, na época) surpreendeu a todos brindando o País com o Plano Real, que estabilizou, de fato, a moeda da inflação e que teve como um dos arautos o então ministro da Fazenda, que depois viria a ser presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
Ciro Gomes não é jejuno em disputas presidenciais. Marcou presença e sempre despertou ilusões, além de garantir para si espaços generosos na imprensa. O seu gênero boquirroto é um favo de mel para jornalistas que fazem a cobertura política. No que diz respeito aos eleitores, surte efeito junto a alguns segmentos, que o consideram sem papas na língua – portanto, um político autêntico, o que é agulha no palheiro em meio a um cenário pobre, tristemente dominado por nulidades a perder de vista. Ocorre – esta é minha opinião – que Ciro, na verdade, é um sujeito mal-educado. Não teve nem respeito para com a atriz Patrícia Pillar, com quem foi casado. Numa entrevista à Playboy, quando indagado sobre o papel de Patrícia Pillar, sendo ele vitorioso como presidente, Ciro reagiu: “Ela vai dormir comigo. Querem mais?”. Foi uma reação machista, de mau gosto, a respeito da qual ainda hoje tem de dar explicações pelo evidente sintoma de politicamente incorreta.
Abstraindo a caturrice de Ciro, que também não tem paciência com jornalistas, convém colocá-lo em listas de presidenciáveis com chances, até, de ir a um segundo turno. Num hoizonte prenhe de lideranças e com o próprio Lula enfrentando uma espada de Dâmocles sobre a cabeça é com os Ciro Gomes da vida que o eleitor vai ter que se coser. Ou, então, votar nulo – ou votar em branco, o que apenas confirmaria a insatisfação com “tudo isso que está aí” e puniria políticos que não corresponderam à confiança depositada. A dedução que se extrai do raciocínio de Gadelha é a de que, desgraçadamente, o país está sem quadros mobilizadores da opinião pública. Se levarmos em conta que ainda por cima a sociedade está desmobilizada e desmotivada para manifestações de rua, teremos a exata dimensão do breu em que nos encontramos.
Assim é o que nos parece!
Nonato Guedes