O transcurso, hoje, dos 92 anos de idade de Elizabeth Teixeira, viúva do líder camponês João Pedro Teixeira, assassinado em 1962 na região de Sapé por pistoleiros contratados por latifundiários da Várzea da Paraíba, enseja uma programação com várias atividades, que darão início à campanha de arrecadação de fundos para a continuidade das lutas e para a construção do Anexo do Memorial das Ligas Camponesas. Estão envolvidos nas celebrações o Memorial das Ligas, o Centro de Comunicação, Turismo & Artes da Universidade Federal da Paraíba e a Secretaria de Cultura do Estado.
Elizabeth Teixeira, após o assassinato do companheiro, assumiu a liderança da organização no município de Sapé, tendo, ainda, o desafio de garantir o sustento de uma prole numerosa. Foi presa em diferentes ocasiões e numa de suas voltas para casa descobriu que a filha mais velha, Marluce, havia cometido suicídio. Com o golpe militar de 1964, teve que passar para a clandestinidade, assim permanecendo até 1981, quando foi encontrada pelo cineasta Eduardo Coutinho, que retomara as filmagens do seu documentário “Cabra Marcado para Morrer”, interrompidas com a eclosão do movimento civil-militar de 64. O secretário de Cultura do Estado, Lau Siqueira, afirmou ao jornal “A União” que tomou conhecimento das lutas das Ligas Camponesas ainda na juventude, quando residia no Sul do País. Teve simpatia imediata pela saga de resistência contra a opressão dos latifundiários, que esmagavam direitos trabalhistas elementares e ainda perseguiam e matavam trabalhadores rurais.
Originalmente as Ligas Camponesas eclodiram em Pernambuco, tendo como expoente o deputado Francisco Julião, que acabou preso, com o mandato cassado e exilado para o México. O fenômeno despertou interesse em várias partes do mundo. O governo de John Kennedy enviou emissários ao Nordeste e à região da Várzea da Paraíba para tomarem conhecimento detalhado da situação, diante de informações desencontradas e alarmistas sobre a dimensão que as Ligas vinham alcançando. “A versão repassada ao governo norte-americano foi a de que se instalara no Nordeste do Brasil um embrião do Vietnã, que foi um pesadelo para os cidadãos americanos e para todo o mundo”, relata, em depoimentos, o ex-deputado Francisco de Assis Lemos, que sofreu torturas por seu combate à opressão do regime de 64. Lau Siqueira chama a atenção para o fato de qu o sistema não conseguiu destruir a identidade de Elizabeth Teixeira com a terra que significava a própria sobrevivência e com a família que mais tarde reencontrou.
Entrou para os anais da história o discurso de improviso pronunciado à beira da cova onde João Pedro Teixeira foi enterrado pelo deputado estadual Raymundo Asfora, vibrante orador que marcou passagem pela Paraíba, tendo sido deputado federal e vice-governador eleito na chapa de Tarcísio Burity, em 1986 (antes de tomar posse, foi encontrado morto em circunstâncias misteriosas na sua Granja Uirapuru em Campina Grande). Na oração em homenagem a João Pedro Teixeira, Asfora afirmou: “É inútil matar camponeses. Eles sempre viverão”. O secretário Lau Siqueira enfatiza o apoio que tem sido dado pelo governador Ricardo Coutinho à construção do Memorial das Ligas Camponesas, bem como ao esclarecimento de episódios de violações de direitos humanos na Paraíba na vigência da ditadura militar. Para tanto, criou uma Comissão da Verdade, cujos trabalhos estão concluídos.