Depois do Carnaval – para não fugir à tradição tupiniquim que manda que decisões sejam tomadas uma vez esgotada a folia de Momo – o presidente Michel Temer virá ao Nordeste, com passagem confirmada, em princípio, pela Paraíba, lá pelo dia seis de março. É uma boa notícia porque, até agora, Temer tem ficado enfurnado em Brasília ou viajado ao exterior e passeado por São Paulo, sem se demorar mais tempo por regiões carentes de atenção do poder público. A presença física do presidente é importante para que ele tenha conhecimento “in loco”, não por informações de terceiros – alguns nem sempre confiáveis, especializados mais em plantar intrigas nas Cortes palacianas do que em dizer verdades ao chefe de Estado.
Temer já esteve como presidente em Estados próximos da Paraíba, mas em viagens-relâmpago – aquelas em que não há tempo senão para tomar um cafezinho, abraçar políticos e autoridades locais, liberar ou deferir esta ou aquela demanda que é ciosamente reivindicada por lideranças. Nota-se que há uma certa inibição da parte do presidente Michel Temer em pisar no solo nordestino – não porque ele seja paulista, mas porque aqui o PT fincou raízes através de Luiz Inácio Lula da Silva, que tem origens em Pernambuco. Mas, do ponto de vista eleitoral, o PT tem perdido terreno a olhos vistos desde que estouraram os escândalos, motivando prisões de gente da cúpula nacional, e após o impeachment de Dilma Rousseff, que neutralizou a chamada perspectiva de poder.
Um exemplo claro do definhamento do PT por estas bandas é o do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo. Ele foi das entranhas do Partido dos Trabalhadores, elegeu-se vereador, deputado estadual, assumiu vice-governança do Estado e ainda chegou à prefeitura da Capital na primeira vez sob as asas vermelhas da agremiação lulopetista. Em 2012, João Pessoa foi a única Capital nordestina onde o PT logrou vitoriar para as eleições à prefeitura. Já em 2016, Luciano Cartaxo foi visto em outro palanque, portando outras cores. Havia se desfiliado do PT para não se contaminar com os escândalos que estavam varrendo células da sigla Brasil afora – e assinou ficha, providencialmente, no PSD, um partido que não é contra nem a favor de governo. Na verdade, é uma legenda insípida e inodora, mas que quebra um galho danado. Tanto assim que Cartaxo se sente à vontade para recepcionar Temer, ao contrário do governador Ricardo Coutinho, do PSB, que se enfileirou abertamente na defesa da permanência de Dilma Rousseff no Planalto e esbravejou contra o impeachment, entrando na onda da orquestração, do golpismo, da ilegitimidade. Cartaxo será, então, o anfitrião maior de Temer – inclusive porque é cogitado como candidato ao governo em 2018, pelo PSD.
Abstraindo essas questiúnculas, há uma intensa expectativa sobre o que o presidente da República trará de bom ou positivo para a Paraíba e para os paraibanos. O compromisso maior, é claro, é com a transposição de águas do rio São Francisco e com soluções emergenciais para a crise hídrica que o Estado atravessa. Mas a Capital carece de investimentos estruturantes, de obras de infraestrutura que resultem em benefícios para a população, especialmente para as camadas marginalizadas ou para os segmentos de baixa renda. O prefeito de João Pessoa tem confiança em que será regiamente recompensado pelo presidente Michel Temer – e a prova dos noves vai ser tirada, evidentemente, quando ele aqui aportar. Em todo o caso, mesmo que venha de mãos abanando, seja bem-vindo, presidente. O povo daqui continua hospitaleiro!
Nonato Guedes