O senador José Serra pediu exoneração do ministério das Relações Exteriores alegando desconforto gerado por problemas de coluna. Agora é o ministro Eliseu Padilha que pediu afastamento alegando problemas de saúde. O presidente do Senado, Eunício Oliveira, licenciou-se para passar por uma cirurgia, que foi concluída com êxito. O governo do presidente Michel Temer está doente ou a bruxa anda solta em Brasília? Esta última hipótese é mais assimilável, dentro das condições de temperatura e pressão que balizam o jogo político na Capital federal.
Há quem diga que está ocorrendo a “maldição” do impeachment de Dilma Rousseff, tramado em gabinetes políticos ocupados por tucanos, peemedebistas e outros istas da fauna do poder neste País de Mãe Preta e Pai João. É carnaval, mas o clima está mais para depressão do que para animação em pleno círculo do poder que gravita à sombra de Temer. Há coincidências extra-terrestres que só acontecem em Brasília, exatamente por ser uma cidade mística, que acolhe seitas e tribos de espécimes variadas. Convém não esquecer o relato das sessões de “magia negra” na Casa da Dinda, a residência do presidente da República, Fernando Collor, no começo da década de 90, onde bonecos eram espetados, simbolizando figuras que queriam o impeachment de Collor, aí inseridos paraibanos ilustres.
O fantasma andante de Brasília, hoje, atende pelo nome de Lava-Jato. Foi essa mega-operação que ceifou inúmeras carreiras brilhantes no topo do Poder. Quem imaginaria que José Dirceu, o todo-poderoso chefe da Casa Civil de Lula, fosse apeado do poder e, além disso, trancafiado numa cela policial? E Dilma, o celebrado “poste” que iria iluminar o País, ceifada no início do segundo mandato por presumíveis pedaladas fiscais e, também, por conivência com irregularidades praticadas pela turma dos aloprados remanescentes do PT? Sobre o ex-presidente Lula ainda paira uma espada de Dâmocles, uma vez que foi citado como réu em inquéritos cabeludos que passaram pelo crivo de autoridades do Supremo Tribunal Federal ou pelo olhar crítico e atento do juiz Sérgio Moro, o comandante da temida República de Curitiba.
A Lava-Jato, encarada inicialmente como uma articulação engenhosa para destituir o Partido dos Trabalhadores do poder conquistado nas urnas, demonstrou, com o tempo, ser uma operação apartidária, que objetiva combater os cupins da corrupção, estejam onde estiverem. Por isto é que estão sendo arrolados políticos do PSDB e do PMDB. A conexão pode chegar ao presidente Michel Temer? Nada impede que sim. Afinal, Temer é referido num sem-número de delações premiadas, com ativa movimentação nos tempos em que era vice-presidente da República na chapa de Dilma Rousseff e despachava no Palácio Jaburu. De onde acabou saindo para o Palácio do Planalto, empalmando uma coalizão semiparlamentarista que só existe em países como o Brasil, que é tropical e completamente diferente de outras nações.
Não é o caso, evidentemente, de ignorar problemas de saúde que estejam acometendo expoentes do poder. A idade e o esforço para manter sob as rédeas o poder costumam exigir muito das pessoas. Elas acabam envelhecendo, com isto contrariando as previsões geriátricas de que, por estarem no poder, seriam candidatas ao remoçamento. O que se descortina é uma república envelhescente. Ela envelheceu na idade e nos vícios dos costumes adotados até então, de tal sorte que firmaram jurisprudência na cultura política e institucional destes trópicos. Não há, de acordo com fontes bem informadas, a perspectiva de um novo golpe militar, uma espécie de “putsch” latino-americano como o que foi perpetrado em março/abril de 1964 e envergonhou o general Olympio Mourão, a ponto de levá-lo a se comparar a uma “vaca fardada”. Mais tarde, um outro militar que ascendeu à presidência e tinha problemas de coluna seriíssimos – o general João Baptista Figueiredo – entraria na história de forma prosaica ao dizer que preferia o cheiro de cavalo ao cheiro de povo.
Brasília tem dessas coisas – e tem mais uma infinidade de casos que, em se plantando, só dá lá, porque o terreno é adubado exatamente para que essas coisas extra-sensoriais aconteçam na Capital do País. É o que temos nas remanescências de nossas raízes – e não há indicativo de grandes mudanças meteorológicas. O receio é que os estragos da bruxa se espalhem por todo o País, o que seria um desastre ecológico de proporções inenarráveis, podem crer! Ah, um feliz carnaval, é claro!
Nonato Guedes