Uma reportagem da revista “Família Cristã”, intitulada “Santa Aposentadoria”, revela que a Igreja Católica no Brasil possui 171 bispos eméritos – entre os quais dom José Maria Pires, que atuou na Arquidiocese da Paraíba. Eles contam com o compromisso de suas dioceses e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, além do INSS, para uma “aposentadoria” saudável e digna. O relato é da repórter Karla Maria:
– Dom José Maria Pires é o bispo com maior número de anos do País. No dia 15 deste mês, chega aos 98 anos de idade superando a idade média do povo brasileiro, que segundo o IBGE, é de 72,5 anos. O mineiro de Córregos, conhecido como dom Zumbi, completa também este ano 76 anos de sacerdócio e, em setemnro, 60 anos como bispo. Dom José, arcebispo emérito da Paraíba, faz parte de um grupo pequeno de brasileiros: o de bipos eméritos. Espalhados pelo País, eles hoje são 171 de um total de 472 bispos ativos nas 276 circunscrições eclesiásticas. O levantamento foi realizado com base no Diretório Litúrgico da Igreja no Brasil 2017.
Tornar-se bispo emérito pode ser entendido como o processo de aposentadoria de bispos diocesanos após completarem 75 anos de idade. A partir desse momento eles ficam desobrigados de suas funções. Com os padres, a situação é a mesma, tornando-os desobrigados de suas funções junto à comunidade paroquial. “Muitos padres já se aposentam pelo INSS quando completam 65 anos, caso evidentemente tenham recolhido sua contribuição ao longo do tempo previsto pela Previdência, porém, continuam a exercer normalmente suas atividades dentro da diocese – explica a pesquisadora Paula Vieira Pires, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais em sua pesquisa Padres e Bispos Eméritos: Um Estudo sobre os processos da Aposentadoria e da Velhice.
Paula destaca ainda que, de acordo com o Código de Direito Canônico, somente na emeritude os sacerdotes têm autorização para deixar de exercer suas funções, que precisa ser dada pelo bispo, no caso dos padres, ou pelo papa, no caso dos bispos. Os trabalhadores aposentados geralmente contam com o pagamento do INSS e com o apoio e a presença da família, aquele núcleo de pessoas que convivem diariamente com o idoso, porém, no caso dos bispos eméritos, que durante toda a sua vida tiveram o “povo de Deus” como família, o Código de Direito Canônico preconiza que a responsabilidade é da Arquidiocese ou da diocese de que foram titulares, e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Dom Luiz Soares Vieira, arcebispo emérito de Manaus, Amazonas, que em maio completará 80 anos, informou à revista Família Cristã que a CNBB tem recursos financeiros especificamente destinados a ajudar as dioceses que encontram dificuldades para sustentar seus eméritos. Como cresce o número de eméritos num ritmo rápido, o problema financeiro começa a pesar. Há dioceses que possuem mais de um bispo emérito e a Comissão Episcopal para os Bispos Eméritos tem estudado saídas. Dom Luiz é presidente da Comissão Episcopal para os Bispos Eméritos e destaca que alguns bispos recebem aposentadoria da Previdência Social, “o que é muito pouco, se notarmos a devastação feita pelo chamado fator previdenciário. Já outros, que vieram de congregações ou ordens religiosas, voltaram às casas dessas entidades e são cuidados por seus confrades.
Dom Angélico Sândalo Bernardino, 84 anos, é bispo emérito de Blumenau (SC) e elegeu a periferia de São Paulo para viver junto com o povo após completar 75 anos de idade. Embora emérito, ele é um dos bispos mais procurados para pregar retiros pelo país. “Bispos eméritos são aposentados, mas não inativos”, afirma. Dom Angélico revela que não ficou na diocese de Blumenau para dar mais liberdade ao bispo que o sucederia. Atualmente, ele reside na Brasilândia, Região Episcopal da Arquidiocese de São Paulo, que está entre os 20 piores Índices de Desenvolvimento Humano de São Paulo. “Nada de ficarmos burguesamente concentrados em paróquias já bem estabelecidas. É preciso qu a Igreja se volte para as periferias existenciais”, adianta. Para ele, a situação dos bispos eméritos precisa da atenção de toda a Igreja. “Nós, bispos eméritos, e isso vale também para o padre emérito, precisamos ser acolhidos com muito mais ternura onde residimos, pelas dioceses, pelas paróquias”. Segundo ele, há bispos eméritos que são colocados no esquecimento e de escanteio, “e isso é uma vergonha”. Assim como dom Luiz, dom Angélico reconhece o trabalho da CNBB, mas acredita que há lacunas e muita burocracia.
Nonato Guedes