Há alguns fantasmas atormentando o sono do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde que sua mulher, Marisa, ainda era viva. O principal fantasma de Lula atende pela designação de chave de cadeia. O ex-presidente teme ser preso em meio a acusações que teimam em vinculá-lo a práticas excusas apuradas pela Lava Jato. Até como estratégia para espantar esses fantasmas que o rondam, o ex-mandatário prepara um antídoto que julga infalível: a sua pré-candidatura para voltar ao Palácio do Planalto. Nesse caso, disputaria eleições presidenciais que já constam do calendário.
A aposta maior de Lula repousa na “vitimologia” que pode abarcar se houver ameaça concreta de detenção sua. Nos meios políticos diz-se que uma eventual prisão de Lula seria um passaporte para seu retorno ao poder – sem que se explique como isto poderá se materializar sem ferir dispositivos da Constituição, que é a Carta Magna. Em todo o caso, o “queremismo” em torno de Lula está deflagrado. Um dos capítulos importantes será vivido no final de semana no cariri paraibano, mais precisamente na cidade de Monteiro, quando Lula, Dilma e um punhado de põlíticos vão se banhar nas águas do rio São Francisco, finalmente transpostas para aquele Eixo do itinerário da interligação de bacias.
O presidente Michel Temer antecipou-se a Lula na visita ao trecho da transposição do rio São Francisco mas passou em brancas nuvens. Não houve impacto popular quando da sua chegada, a despeito de Temer, para não melindrar espíritos de adversários, enfatizar que não veio reclamar paternidade por obra alguma. Temer, embora tenha direito, não é postulante declarado nem insinuado ao que seria uma reeleição, pela hipótese de suceder a si mesmo. Lula, que já enfrenta embaraços judiciais, na condição de réu em alguns processos, quer percorrer o País no papel de pré-candidato. A tática é acaciana: move-lhe o intuito de gerar um fato consumado, de tal sorte que não haja força sobrehumana que o impeça de candidatar-se e, então, ser eleito, como sonham os petistas e neopetistas.
Diz o professor Wanderley Guilherme dos Santos que castrar a potencial candidatura de Lula é café pequeno no arsenal que seus adversários e inimigos estariam preparando para se contrapor ao seu virtual favoritismo. “A angústia reacionária – decreta o cientista político – decorre da impossibilidade ontológica de raptar o gigantesco simbolismo de Lula como grande eleitor”. Para o professor, Lula é detentor de um fabuloso e invulnerável estoque de votos plurais, e o dedo que lhe falta é o da delação, não o da vitória. “Para onde apontar, lá terão milhões de votos. Por isso, a tarefa do conluio reacionário se afunila: as eleições de 2018 não se processarão com as regras previstas. A previsão legal vetando mudanças intempestivas será outro café pequeno para o consórcio que fez o que fez em 2016. A rima é de marcha fúnebre”, exagera Wanderley. Que está convencido de que não é menos fácil a situação dos grupos oposicionistas.
O vaticínio derradeiro do professor é o de que a esperança das ruas trará frustração: todas as manifestações aquém de um furacão ininterrupto terminarão em desânimo. Ainda assim, o professor Guilherme acredita que Lula possa passar por cima de todos os casuísmos porventura engendrados para conter os seus passos e, assim, continuar célere na caminhada que o levaria de volta ao Palácio do Planalto nos braços do povo. Será isto mesmo o que vai acontecer? É uma tese. A outra tese é não acontecer isto. Que venha a História, senhora da Razão!
Nonato Guedes