Expoentes nacionais do Partido dos Trabalhadores confessam que a visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pernambuco e à Paraíba, hoje, para “reinaugurar” trechos da transposição de águas do rio São Francisco, que foram inaugurados pelo presidente Michel Temer, tem um significado particular: sete anos depois de ter deixado a presidência e estando citado como réu em processos judiciais que apuram escândalos, Lula deseja testar sua popularidade e, ao mesmo tempo, as chances de sair candidato a presidente da República em 2018.
Há indicações, obtidas através de pesquisas de opinião pública, de que o ex-presidente Lula teria perdido densidade eleitoral em meio ao desgaste do Partido dos Trabalhadores e ao impeachment de Dilma Rousseff no exercício da presidência da República. Ainda é um nome bastante forte e respeitado pelos adversários, com poder de mobilizar centrais sindicais e movimentos sociais, todavia, o ex-retirante nordestino que foi tentar sobreviver em São Paulo contabiliza defecções de votos em áreas estratégicas que considerava cativas. A tática de Lula está centrada numa ofensiva contra o governo Michel Temer. Além de qualificar de “golpista” a gestão de Temer, o ex-presidente acusa o atual governo de se empenhar para a retirada de conquistas sociais e sindicais inscritas na própria Constituição.
Quando Michel Temer foi a Monteiro, no cariri paraibano, há cerca de duas semanas, abrir oficialmente as comportas da transposição para o Eixo Leste, foi recebido com frieza e teve o desconforto de avistar faixas e bandeiras saudando o antecessor Luiz Inácio Lula da Silva. Temer evitou assumir paternidade pela obra da interligação de bacias, ressaltando que muitos governantes contribuíram, ao longo dos anos, para a sua materialização. Deixou claro que seu governo estava empenhado em levar à frente reformas que são reivindicadas pela sociedade brasileira – este é o seu maior compromisso e, possivelmente, o seu maior legado. Mas as reformas encontram resistências dentro do Congresso Nacional e junto a segmentos da sociedade, principalmente as mudanças que mexem com aposentadoria de trabalhadores e trabalhadoras.
Em paralelo, o governo Temer, que se investiu em oposição a alegados escândalos dos governos petistas de Lula e Dilma, tem se notabilizado pelo envolvimento de ministros em atos de irregularidades. Isto tem provocado um rodízio na equipe de auxiliares de confiança do presidente peemedebista, que executa uma espécie de governo semiparlamentarista, apoiado em bancadas com atuação na Câmara e no Senado Federal. A fase crucial experimentada pela gestão Temer é que dá fôlego a Lula e aos seus liderados para ocuparem as ruas e, assim, massificarem a ideia de retorno do ex-presidente como necessária. A imprensa sulista especula que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está cada vez mais perto de uma condenação. Dilma Rousseff, por sua vez, é acusada pela Odebrecht de usar e abusar do caixa dois na sua campanha eleitoral. Indiferentes a isso, os dois ex-presidentes promovem eventos de significação que estão sendo acompanhados com extremo interesse pelo Palácio do Planalto.
Nonato Guedes